quarta-feira, junho 29, 2005

Perdeu-se o Tino e o Norte

As ilhas dos Açores estão-se a tornar em verdadeiros palcos de animação e prazer, num arraial permanente de pão e circo, com custos muito elevados para todos. Estimamos um valor total de 10 milhões de euros (2 milhões de contos) gasto em festas e festivais nesta época estival. Perdeu-se, de facto, o tino e o norte, neste verão. Entrou-se na euforia, no desvario, na loucura.
Mesmo correndo o risco de sermos fastidioso, e contra a corrente hedonista que avassala os Açores, divulgamos de seguida os artistas e as bandas de fora que actuam por todos os concelhos desta Região. É verdadeiramente espantoso o que se está a passar. Perdeu-se a noção do razoável, e entrou-se numa alienação colectiva preocupante e perigosa. O que vem por aí abaixo é de arrepiar qualquer contribuinte: Daniela Mercury, Ivete Sangalo, GNR, Marco Paulo, ABBA Gold, Xutos e Pontapés, Ágata, Bonga, Off The Wall, Martinho da Vila, Luís Represas, Delfins, Jéssica Amaro, John Lee Hooker Jr., Manecas Costa, Roy Caetano, Skatalites, Kila, Taity, Celtas Corto, João Pedro Pais, Jorge Palma, Squeeze Theeze Pleeze, Carla Visi, The Gift, WOK Ritmo Avassalador–Tocá Rufar, Fronzie, Pluto, Pedro Madaleno & Underpressure, Fingertips, Morbid Death, Micaela, Moonspell, Sara Tavares, Los Hermanos, Blasted Mechanism, José Malhoa, Charon, Rui Bandeira, Blind Zero, Easyway, Tony Carreira, As Meninas, Ramp, Delirium, Nuttsheel, Anjos, Santa Maria, Reno, Ena Pá 2000, Hands on Approach, Naco Goni & Steeve Zee Blues Reunion, Minninemamm Blues Band, B Flat Blues Band, Victor Aneiros Band, Quarteto Borodin, Wray Gunn e Quadrilha, Mind Gap, Maninho Baia, e até o Grupo Feminino de Cante Alentejo “Rosas de Março”, a Banda Associação Bombeiros de Loures e a Orquestra Metropolitana de Lisboa. Programas que dizem respeito a todos os concelhos da Região, às casas de espectáculo Coliseu e Teatro Micaelense, sem ter em conta ainda o Festival MúsicAtlântico, da responsabilidade do governo regional. Como contribuinte sentimo-nos defraudados com quem gere os dinheiros públicos nesta Região. Porque a esmagadora maioria destes eventos são gratuitos, pagos assim por todos nós contribuintes.
Feitas estimativas são qualquer coisa como 10 milhões de euros (2 milhões de contos), para música, dança, comes e bebes. Uma aberração, uma injustiça, quando se gasta desalmadamente estes dinheiros públicos, numa Região com enormes carências sociais, e uma das mais pobres do país e da União Europeia. Isto não faz qualquer sentido! Daria este valor para construir 200 habitações sociais, por exemplo. Ou para fomentar a criação de centenas de micro-empresas. E criar riqueza nesta terra.
Nada parece parar esta enorme onda festivaleira. Dinheiro verdadeiramente esbanjado, num despesismo e numa irresponsabilidade incompreensíveis e inaceitáveis. São importantes recursos financeiros que vão para fora da Região, porque as bandas e os artistas são essencialmente do exterior, pagos a peso de ouro. Dinheiro que desaparece sem criar qualquer riqueza nestas débeis economias insulares.
E enquanto decorrem estes arraiais há muitos açorianos amargurados e a sofrer. Há uma classe média baixa que sofre de pobreza envergonhada portas adentro. Com muitas dificuldades em gerir o orçamento familiar com os rendimentos que possuem. Há ainda aqueles que vivem nas bolsas de miséria espalhadas especialmente pela ilha de S. Miguel. Há ainda muito açorianos trabalhadores e respeitáveis, mas que não têm uma habitação condigna e aguardam há anos por uma oportunidade. Há muitos idosos doentes e pobres que estão há meses, e mesmo anos, em listas de espera para uma consulta médica. Há mais de 2 milhares de crianças em risco, provenientes de famílias desestruturadas, que aguardam ansiosamente por um projecto de vida que lhes faça sorrir.
Há instituições de solidariedade social que desesperam e têm de pedinchar para uma mera cadeira de rodas ou uma banheira apropriada para deficientes, ou para o governo pagar consultas médicas para crianças e jovens acolhidos. Há cerca de 5.000 toxicodependentes que estão abandonados à sua triste sorte, sem apoio para se livrarem do seu vício.
Enquanto se gasta desalmadamente em festas, pão e circo, aumentam os sem-abrigo que precisam urgentemente de ajuda. Há ainda 16.000 beneficiários do Rendimento Social de Inserção que vivem abaixo do limiar da pobreza, satisfazendo apenas as suas necessidades mais básicas, essencialmente as alimentares.
Enquanto as festas proliferam por todas as ilhas, há 30.000 açorianos dependentes do álcool, destruindo as suas vidas e as suas famílias, recorrendo amiúde à violência doméstica e em certos casos à violação.
Há alguns milhares de açorianos que vivem da pesca artesanal, com baixos rendimentos e mesmo incertos, e já não conseguem pagar as suas compras de mercearia. E adolescentes açorianas que engravidam, sendo a taxa nos Açores o dobro da nacional. E centenas de traficantes de drogas que fazem os seus negócios bem junto às escolas ou nos bairros de miséria. Estamos nos Açores muito longe do oásis prometido e defendido amiúde.
Enquanto isto se passa, vivemos na pândega, na festa, no arraial. É a cultura niilista, do prazer e do consumo, no seu mais alto patamar, sem olhar a custos. É um exagero incompreensível! Haja respeitos pelo erário público e acima de tudo pelos açorianos desfavorecidos e necessitados.

quinta-feira, junho 16, 2005

Cais de Cruzeiros ou Obra do Regime

O cais de cruzeiros e suas infra-estruturas na marginal de Ponta Delgada, denominado agora de Portas do Mar, foi apresentado a um grupo seleccionado de cidadãos desta terra. E a dúvida continua a persistir. O objectivo desta obra é um cais de cruzeiros ou uma obra marcante do regime?
O Portas do Mar é um projecto de investimento com custos muito elevados, não prioritário nesta fase de desenvolvimento e tudo indica inviável, numa perspectiva de custo/benefício.
Os contribuintes desta Região têm o direito de conhecer a análise custo/benefício deste projecto de investimento, se é que foi feita. Um projecto que deve chegar aos 50 milhões de euros tem de ser correcta e profundamente analisado numa perspectiva económico-financeira. E há inúmeras questões que têm de ser clara e inequivocamente explicadas. Não basta apresentar uma maqueta integrada num espectáculo mediático.
Qual é o valor incrementável deste projecto quando comparado com a situação actual? Que receitas adicionais vai gerar este projecto de investimento? Qual é o ponto crítico deste projecto em termos de número de paquetes? Ou seja 100 paquetes por ano viabilizam este projecto? Ou terão de ser no mínimo 300? Como é que se vai crescer das actuais 4 ou 5 dezenas de paquetes que escalam Ponta Delgada para os 100, 200 ou até 300 paquetes por ano? Analisou e estudou o governo as alternativas de investimento público, possivelmente bem mais reprodutivas, para estes 50 milhões ou limitou-se a “inventar” um projecto para “encaixar” no Fundo de Coesão e sacar uns milhões de euros? Tratando-se de uma obra complexa e executada no mar calcula-se que mais de metade dos 50 milhões acabem por sair da Região através de empresas nacionais ou internacionais. As empresas regionais vão-se ficar pelas sobras. O impacte do investimento é assim reduzido.
Ou a coberto de um cais de cruzeiros o governo quer é uma obra com o objectivo de marcar e perpetuar o regime? Com 50 milhões não seria de equacionar um novo porto de pescas? Ou um terminal para graneleiros como na Madeira libertando assim o porto para os paquetes?
E depois de retirar o hangar da marinha e libertar o Forte de S. Brás, não seria de analisar o arranjo do saco da doca, em vez de voltar a construir um mamarracho para a lota, bloqueando novamente o Forte? E o impacte ambiental desta enorme massa de betão na baia do porto comercial e em frente a várias unidades hoteleira e á Igreja de S. Pedro foi estudado? E o impacte de um paquete ancorado no Cais, criando uma verdadeira barreira entre a marginal e o mar foi analisado? Não será muito mais agradável para os micaelenses e para os visitantes olhar o nosso mar até a linha do horizonte do que ver a proa e o convés e camadas de camarotes de um qualquer paquete? E os ambientalistas desta terra o que dizem? Estranhamente silenciosos!
Foi estudada a operacionalidade do porto comercial pós-projecto? E não haviam muitos outros espaços nos arredores de Ponta Delgada para a construção de um pavilhão de exposições de 4.000 m2 ? Tinha mesmo que ser em espaço conquistado ao mar e necessariamente muito oneroso para além de ser limitado? Não faz qualquer sentido. E por isso a volumetria deste projecto aumenta de forma preocupante.
E o congestionamento de trânsito naquela zona foi estudado, numa cidade já a rebentar pelas costuras e com graves problemas de circulação e estacionamento de viaturas?
Demasiadas questões de natureza, económico, financeira, urbanística, ambiental e até mesmo social estão por esclarecer. E temos todos o direito a estes esclarecimentos, de forma transparente e democrática. Recusamos a opacidade e muito menos a desinformação, armas amiúde usadas pelos nossos governantes.
Não deixa de ser estranho que a Secretaria Regional da Economia convide e pague a deslocação de jornalistas, ao atelier do arquitecto Manuel Salgado e que alguns dias depois em Ponta Delgada faça uma sessão de apresentação do projecto. Recusamo-nos aceitar a transparência e verdade que convém aos políticos. Exigimos muito mais, porque a tal temos direito, como cidadão responsável e como contribuinte com os impostos em dia.
O progresso destas maravilhosas ilhas não pode estar ao sabor do momento, de alguns governantes, quiçá sob pressão de poderosos lobis, e a qualquer custo, mesmo que seja destruindo a “galinha de ovos de oiro” das ilhas. Que é o seu ambiente natural, simples e bucólico, formado pelo contraste do azul do mar, com a rocha negra, com o verde dos campos, matizados pelas coloridas hortênsias, azáleas, conteiras, beladonas e agapantes, e sempre com o mínimo de betão possível. Isto é que representa e representará sempre a diferença dos Açores, quando comparados com outros destinos turísticos. Não queiramos destruir isto!

quarta-feira, junho 08, 2005

O Teatro Negro da Criança

O dia 1 de Junho é o dia mundial da criança. Neste dia importa recordar que a Declaração dos Direitos da Criança, adoptada pela ONU em 20 de Novembro de 1959, afirma que toda a criança tem direito à "protecção e cuidados especiais, inclusive protecção legal apropriada, antes e depois do nascimento".
E neste dia milhares de crianças saíram à rua, alegres, felizes e brincalhonas. E houve festa para elas. Actuação de palhaços, bandas musicais, largada de balões, teatro, fantasias, bicicletas e até a surpresa do simpático Pontinhas, em Ponta Delgada. O resultado foi rasgados sorrisos de contentamento das crianças. Mas, infelizmente, para muitas crianças, foi mais um dia de risco, de expectativa, amargura e mesmo de tristeza.
Enquanto temos em S. Miguel o Circo da China, o Teatro Negro de Praga e nos preparamos para receber a Ivete Sangalo, à revelia daquelas imagens de alegria e folguedos, existe outra realidade bem diferente, quiçá dramática. São as crianças e jovens abandonadas à sua sorte, que deambulam nas bolsas de miséria existentes na ilha de S. Miguel, ou institucionalizadas, sem qualquer projecto de vida. São as denominadas crianças em risco. Estima-se que em S. Miguel sejam mais de 1.500 crianças em risco, já identificadas, mas ainda sem solução à vista. Os seus processos estão empilhados no Tribunal de Família e Menores ou nas Comissões de Protecção de Crianças e Jovens. Uma autêntica dor de alma!
Só a Comissão de Ponta Delgada têm 742 processos. O Tribunal tem por seu lado quase 400 processos, só de promoção e protecção de crianças e jovens.
As bolsas de miséria vão desde a Ribeirinha até aos Aflitos, passando pela Ribeira Grande, Rabo de Peixe e Ribeira Seca, isto na costa norte. Na costa sul também as há nas Feteiras, na Lagoa, em Agua de Pau e na Ponta Garça. São autênticos sorvedouros de seres humanos, excluídos e carenciados, material e espiritualmente.
Enquanto os governantes e os autarcas se desdobram em sorrisos perante as crianças felizes, as outras na sua solidão, arcam com a sua amargura e sofrimento. Com a família destruída pelo álcool e pela droga, ou mesmo sem família, lá estão elas na rua ou em instituições de acolhimento de crianças, enquanto os seus processos, que vão determinar o seu projecto de vida, continuam empilhados no Tribunal ou nas Comissões. Vivem sem esperança, angustiadas e entristecidas. As institucionalizadas estão sempre atentas a alguma notícia para irem para “pais novos” ou mesmo aquela notícia de que a família já tem condições de habitabilidade e assim já recuperou para as integrar novamente, ou até a notícia de que pai ou a mãe já fez a tão desejada cura de desintoxicação do álcool ou da droga.
A Comissão de Protecção de Menores de P. Delgada tem 742 processos de crianças em risco, sem nada poder fazer. São de crianças que sofreram maus tratos, violações, negligência, e abusos de toda a natureza. Crianças que correm sérios riscos, porque estão na rua sujeitas a todos os perigos, sem solução para elas. Porque a Comissão não tem recursos humanos para poder fazer algo. Vive da boa vontade de algumas pessoas e com muitas limitações.
Por seu lado o Tribunal de Família e Menores de P. Delgada vive num verdadeiro caos. Empilhados estão quase 2.800 processos pendentes. E muitos dizem respeito a crianças e jovens: processos de adopção, de promoção e protecção, regulação, incumprimento ou inibição do poder paternal. O Tribunal não tem recursos humanos para poder dar cabal seguimento aos processos. E são as crianças e jovens que pagam por este caos, que sofrem, que desesperam. Por seu lado, nas mais de 30 instituições dos Açores, há quase 600 crianças e jovens acolhidas, muitas lá a “apodrecerem” há anos, com custos elevados para o estado e sobretudo para elas. Porque a lei de adopção é ainda demasiada pesada e burocrática, ou porque as instituições envolvidas não estão devidamente articuladas. Muitas vezes estas crianças e jovens são autênticos joguetes nas mãos dos adultos, enredadas que estão pela burocracia asfixiante e redutora que temos. Tão fácil seria para os nossos governantes resolverem grande parte destas situações. Podiam começar por alocar recursos humanos, disponíveis em algumas secretarias regionais, e assim reforçar os quadros das Comissões ou do Tribunal. Ou então pressionar o governo da república para reforçar o quadro do Tribunal. Muito simples!
Mas se calhar não é uma acção muito visível. E os políticos gostam de medidas que tenham impacte mediático. E para isso nada como uma boa obra de betão, não interessando se é um projecto de investimento reprodutivo ou não, mas que seja objecto de inauguração e descerramento de placa. E quanto mais betão for tanto melhor. Por que alimenta uma certa e determinada clientela e uns comissionistas agressivos, bem como por vezes revela-se uma excelente fonte de financiamento dos partidos políticos, quiçá com o recurso a alguns “trabalhos a mais”.
E assim continuamos, nesta sociedade insular, a assobiar para o lado, sem querer ver a realidade, e esquecendo que a família é a célula da sociedade e a criança o seu ADN.

segunda-feira, junho 06, 2005

A "Betonização" da Marginal de Ponta Delgada

A “Betonização” da Marginal de Ponta Delgada
Os políticos, mormente os governantes, têm uma atracção muito forte, quase fatal, pelo betão, pela obra corpórea.
O cais de cruzeiros e as infra-estruturas adjacentes é uma obra mastodôntica, faraónica, irrealista, e consome elevados recursos financeiros, para além de ser desproporcional ao estádio de desenvolvimento económico da Região, e seguramente não prioritária.
O projecto consta de um cais de 370 metros para paquetes, da reabilitação das piscinas existentes (mais uma vez!), de uma nova marina com 450 lugares, de um parque de estacionamento subterrâneo para 200 viaturas, de um pavilhão de exposições, várias lojas, de uma zona pedonal e de melhoramentos da orla costeira. Um investimento que com os desvios e os normais trabalhos a mais deve atingir 50 milhões de euros. O financiamento deste projecto vai ser metade do orçamento da Região e 25 milhões de euros do Fundo de Coesão.
Depois de alguma reflexão, chegamos à conclusão que se trata de um projecto de custos certos e benefícios incertos e reduzidos. Se o governo fizesse uma análise custo/benefício deste projecto, de forma isenta e competente, a decisão seria naturalmente de não avançar com ele por não ter retorno económico.
Em primeiro lugar, por se tratar de uma obra no mar e de elevada envergadura, e assim ser sujeita a um concurso internacional, estima-se que mais de metade dos fundos financeiros a aplicar neste investimento acabarão por sair da Região, não criando assim riqueza. As empresas regionais, que pagam aqui os seus imposto, vão ficar apenas com sobras desta obra.
Consideramos depois que o valor incrementável deste projecto é diminuto, quando comparado com a situação existente: paquetes no porto comercial, feira no espaço do antigo hangar da marinha, piscina do pesqueiro e marina actual.
E a questão que se coloca é simples: o que ganha adicionalmente a economia micaelense e regional com este avultado investimento? Ou seja, que receitas adicionais vão entrar nesta pequena economia insular com este investimento? Qual é o ponto crítico deste projecto em número de paquetes a escalar o porto de Ponta Delgada? Lamentamos dizer, mas indubitavelmente que o valor incrementável deste investimento é muito baixo, o que leva a dizer que a decisão teve contornos meramente políticos, e não económicos. Quiçá candidata a obra de regime!
O número de paquetes que passarão pelos Açores nunca serão de molde a viabilizar um empreendimento desta grandiosidade.
Há naturalmente projectos de investimento alternativos que com 50 milhões poderiam ter um efeito multiplicador e indutor de actividade económica muito mais significativo do que este. Undibutavelmente que este projecto vai ficar pendurado no orçamento da Região durante muitos anos. É mais um elefante branco em perspectiva, a fazer lembrar o Porto Oceânico da Praia da Vitória.
A Madeira recebe, no seu porto comercial do Funchal, mais de 300 paquetes por ano. Nunca teve necessidade de um cais acostável para o efeito. Nos Açores onde atracam duas ou três dezenas de paquetes por ano, temos um governo que quer investir 50 milhões de euros. Um luxo asiático incompatível com uma Região das mais pobres da Europa e ainda com problemas sociais graves.
O pavilhão de exposições previsto não vai resolver o problema do espaço para os comerciantes realizarem as suas mostras e feiras. Por que pequeno, limitado e sem estacionamento suficiente. Um parque de 200 lugares para nada serve. Agora não se compreende o silêncio da associação empresarial de S. Miguel em relação a este congestionado e limitado pavilhão.
Este projecto mirabolante poder ser um polo de atracção de trânsito que poderá entupir totalmente a marginal e a cidade de Ponta Delgada. Estranha-se também o silêncio da Autarquia em relação a este investimento.
A nova marina é uma infra-estrutura para servir os locais e não vai trazer mais riqueza, não é um investimento reprodutivo. Assim como as novas piscinas que acabam por servir apenas os locais.
O presidente do governo afirmou que esta importante obra “mudará significativamente a face de Ponta Delgada e o seu relacionamento com o mar”. Aqui nesta frase está tudo dito, e não podemos estar mais de acordo.
A face de Ponta Delgada mudará certamente, mas para muito pior. Ficará uma cidade “betonizada”, com uma manha brutal de betão a entrar pela baia do porto. Parte da sua singularidade e especificidade vai-se com este arrepiante projecto. O seu relacionamento com o mar deteriora-se na medida em que deixaremos de ter a vista do mar até ao infinito para passarmos a ver a proa, o convés, e os andares de camarotes de um qualquer barco de cruzeiro. Temos a certeza que a grande maioria dos micaelenses preferiria ver o mar até à linha do horizonte.
O presidente do governo vai mais longe e diz que este projecto é de “carácter poderosamente reprodutivo”. Nada mais falso. Se o governo tivesse feito a tal análise custo/benefício, como as empresas fazem os estudos de viabilidade para os seus projectos de investimento, nunca teria tomado a decisão de avançar para este monstro de betão.
Não se prevêem receitas deste investimento suficientes para um retorno económico num período de três décadas. Não tem efeitos multiplicadores relevantes na economia de S. Miguel.
São importantes e avultados recursos financeiros que poderiam ser aplicados em outros projectos alternativos.
Querem saber alguns? Invistam nos recursos humanos desta Região, na massa cinzenta, com retorno garantido. Melhorem a organização e o funcionamento das escolas na Região. Invistam no ensino básico, no secundário, nas escolas profissionais, nos politécnicos. Invistam na criação de pequenas empresas, na criação dos seus próprios postos de trabalho. Invistam na qualificação dos açorianos que querem trabalhar no turismo para termos serviços de melhor qualidade. Invistam na reforma da administração regional, com uma máquina grandiosa, pesada e pouco eficiente.
Invistam no saneamento de Unidades de Saúde e na melhoria dos cuidados de saúde prestados na Região. Invistam a sério no combate ao alcoolismo e à toxicodependência, verdadeiras chagas sociais nos Açores.
Fomentem e apoiem lares para idosos, de qualidade, para poderem viver os seus últimos dias de forma digna e humanizada.
Invistam na promoção turística da Região no exterior, mas de forma séria, competente e sistematizada. nvistam em habitações para aqueles açorianos que vivem em condições sub-humanas, em bolsas de misérias espalhadas por todas as ilhas.
Mas se calhar um cais de cruzeiros e suas infra-estruturas mirabolantes dá mais nas vistas e serve bem como obra de regime, quiçá para colocar no futuro um busto, uma estátua, uma placa toponímica, dos governantes actuais, para a posteridade. Mas não contribui per si para a sustentação económica desta Região. Isto é certo e seguro. E esta Região não se pode dar ao luxo destas aventuras.

Incongruência Chocante

Assiste-se nestas maravilhosas ilhas dos Açores a uma incongruência chocante, incompatível com o seu estádio de desenvolvimento, que continua a ser o de uma das regiões mais pobres da União Europeia, com sérios problemas sociais ainda por resolver. Vejamos então.
Um cais acostável para paquetes turísticos e um conjunto de infra-estruturas de apoio, dentro da bacia da doca, em frente à igreja de S. Pedro, em Ponta Delgada, com um investimento de mais de 50 milhões de euros. Um investimento megalómano sem retorno esperado quiçá nos próximos 50 anos. Perfeitamente desproporcionado e seguramente nada prioritário. Não há razões económicas para este avultado investimento se calhar apenas razões políticas, quiçá o gosto pelo betão.
A alternativa de construção de um novo aeroporto na ilha de S. Jorge, abandonando o actual que está a sofrer obras de melhoramento, é apresentada com uma ligeireza e facilidade inadmissíveis. Um projecto mirabolante de cabeças aéreas!
Um barco de transporte de passageiros que custa ao erário público por ano mais de 5 milhões de euros, com um serviço de deficiente qualidade, e proporcionando passeios ao sabor da política e dos políticos. Como se essa fosse uma região rica!
Clubes desportivos que estão a participar em provas nacionais, mormente os de futebol, a receberem milhões de euros, a troco de uma pretensa e ilusória promoção que fazem da Região.
Vias terrestres sob a forma de SCUT, Sem Custos para o Utilizador, mas com enormes custos para o contribuinte, num valor global que deve atingir os 300 milhões de euros, para 90 km de estrada, parte já concretizada. Rasga-se a paisagem campestre e bucólica até ao Nordeste e lá se vai a beleza das estradas actuais, próprias de uma ilha naturalmente pequena, mas que assim torna-se igual a tantos outros destinos turísticos de massas. Lá se vai a diferenciação do turismo dos Açores. Um exagero no estádio de desenvolvimento por que passam os Açores!
A distribuição de subsídios avulso para isto e para aquilo, sem qualquer efeito multiplicador económico, criando-se assim cada vez mais uma sociedade subserviente, apática e de mão estendida para o poder regional e autárquico.
O aumento do numero de deputados ao Parlamento Regional em mais 5, passando assim para 57, num irresponsável abuso de poder, para favorecer ainda mais a elite política. Enquanto que a outra Região Autónoma, a Madeira, numa atitude responsável, reduz o seu número de deputados de 68 para 41.
Empresas municipais a serem criadas em catadupa, praticamente em quase todas as principais autarquias. É mais um conselho de administração, mais virtuosas senhas de presença, mais quadros, mais administrativos e acima de tudo mais endividamento. E o argumento é sempre o mesmo: maior flexibilidade na gestão, ou por outras palavras “fuga ao sistema”, mormente fuga às limitações de endividamento.
Assiste-se a mais uma forte onda de pão e circo para o povo, sem precedentes, agora com as duas casas de espectáculos em Ponta Delgada, o Coliseu e o Teatro Micaelense. Concorrem estas instituições na melhor programação, à custa do dinheiro dos contribuintes açorianos. É um ver se te avias: Ballet de Moscovo, Circo da China, Fafá de Belém, Teatro Negro Nacional de Praga, Sérgio Godinho, River Dance, Fausto, etc... Páginas e páginas de publicidade, na imprensa local, paga por todos nós. Não há semana agora sem espectáculo e alguns a preços sociais. Um fomento à sociedade do prazer, hedonista, facilitista! Isto numa região pobre, das mais pobres do país e da União Europeia.
No final do ano é que vamos perceber a dimensão dos buracos financeiros que serão criados.
Assistimos assim a um desperdiçar de dinheiros públicos, directamente para o consumo, sob a forma de lazer, que poderiam e deviam ser aplicados em acção reprodutivas ou de redistribuição, junto das população mais necessitadas.
Enquanto o “festival” se vai desenrolando, o presidente da Cáritas de S, Miguel alerta para os muitos micaelenses que passam fome. Que não têm os bens alimentares necessários para uma alimentação adequada e equilibrada. Que vivem em situações habitacionais degradantes. Cerca de 11.200 micaelenses são abrangidos pelo Rendimento de Inserção Social, quase 9% da população, mas as prestações que recebem só dão para sobreviver e comprar os alimentos básicos. A qualidade de vida destas famílias é de verdadeira pobreza e miséria.
Incongruência chocante: por um lado investimentos mirabolantes e desnecessários, despesismo irresponsável, desrespeito pelo erário público, por outro lado açorianos a passar fome, famílias no limiar da pobreza e muita miséria à mistura, nas inúmeras bolsas que existem em S. Miguel. Uma inadmissível injustiça social!
Bolsas de miséria que resultam essencialmente do alcoolismo que grassa por esta sociedade, um problema social grave, nunca enfrentado pelo poder político. Da toxicodependência que assola a nossa população, essencialmente adolescentes em idade escolar e jovens. E que nunca foi assumido pelos governantes ou pela sociedade civil.
E nestas bolsas de miséria vivem famílias desestruturadas, onde vagueiam centenas de crianças e jovens em perigo. Onde impera a violência, a promiscuidade, o abuso sexual, a violação, o incesto, a pedofilia. Isto tudo bem ao nosso lado. Basta observar com olhos de verdadeiros cristãos, afinal como devia ser feito pela grande maioria dos açorianos.
A par da elite política, dos deputados, dos governantes, dos assessores, dos adjuntos, dos chefes de gabinete, das secretárias particulares, dos consultores, dos avençados, com empregos muito bem remunerados, existem idosos necessitados, pensionistas com sérias dificuldades financeiras, doentes em listas de espera há anos, excluídos, marginais, toxicodependentes, alcoólicos e sem-abrigos, abandonados á sua sorte, porque não há dinheiro para acudir a estas situações sociais graves. Porque não há verbas para estes açorianos desafortunados. Porque não têm voz!
E ainda há outros Açorianos que estão a sofrer carências portas adentro, sem darem nas vistas, e sem constarem das listas oficiais dos organismos do governo ou do Banco Alimentar.
Receia-se que esta onda de pão e circo surja em crescendo, à maneira que nos aproximamos das próximas eleições autárquicas.
Por isso um veemente apelo, um grito de misericórdia, por aqueles que não têm voz. Senhores governantes, senhores autarcas tenham respeito pelo erário público, que tem de ser gerido com muita parcimónia, elevado rigor e sentido de prioridade. Há açorianos carenciados que têm também o direito a uma vida digna, com o mínimo de qualidade.
Acabemos com estas incongruências e trabalhemos para uma sociedade mais justa e fraterna, onde a riqueza possa estar mais bem distribuída.

Um Trabalhador na Vinha do Senhor

A primeira reacção do papa Bento XVI, no final do Conclave, e após a sua eleição, na varanda da Praça de S. Pedro, foi de elevado significado: apresentou-se como um “simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor”. O actual papa é um dos maiores teólogos contemporâneos, inteligente, profundo conhecedor da Igreja, antigo arcebispo de Munique e Presidente da Congregação de Doutrina e Fé. Nos últimos anos assumiu-se como um dos homens-chave na definição da ortodoxia na Igreja Católica e um dos mais importantes colaboradores de João Paulo II.
Num encontro com jornalistas, em 30 de Novembro de 2002, ocorrido na Universidade Católica de Santo António de Múrcia, o cardeal Ratzinger afirmava: «O anúncio de Cristo e seu Evangelho num mundo relativista é um dos desafios centrais da Igreja». Por isso, concluía, «temos de fazer o Evangelho acessível ao mundo secularizado de hoje».
O relativismo ético é uma atitude de fundo que tende a negar a existência de valores objectivos absolutos, sobre os quais se poderá basear o comportamento moral. Isto é o comportamento dos homens está ligado aos contextos histórico-sociais em que vivem. Assim cada um terá a sua visão própria e relativa. A subjectividade dos comportamentos passa assim a ser a tónica de vida, com todos os perigos daí advenientes.
Não podia a Igreja ser entregue a melhor pontífice, que se revela de uma enorme segurança, tão necessária no mundo de hoje, relativista, materialista e hedonista. Uma rocha onde pode a Igreja segurar-se melhor, nesta constante agitação terrena, ao sabor de marés que nos inundam.
Bento XVI quer ser à semelhança de S. Bento e de Bento XV um papa evangelizador, num ambiente adverso e perverso, onde a fé se vai esvaindo, no dia a dia de correria e ansiedade. Um papa evangelizador a começar pela Europa que tão necessária está de ser cristianizada.
Bento XVI apresenta-se como o papa capaz de dar a serenidade e tranquilidade que os católicos precisam para poderem ser verdadeiras testemunhas de Jesus Cristo, levando a Sua Palavra aos ambientes profissionais mundanos, brutos e duros. Onde impera a arrogância, a incompreensão, a busca incessante do prazer, o egoísmo e mesmo a exploração.
A comunicação social, mais habituada à cobertura dos acontecimentos políticos, interessou-se mais em qualificar e etiquetar o novo papa de conservador ou de menos progressista, como se isso fosse possível. Um evidente erro de avaliação quiçá mesmo de interpretação. Embora cada papa tenha o seu estilo próprio o magistério é sempre o mesmo. A linha da Igreja está bem alicerçada na Palavra de Deus e daí não pode sair sob pena de ser incongruente com Jesus Cristo e com o seu Plano de Salvação.
João Paulo II dizia que «não há um programa novo para inventar. Está tudo escrito no Evangelho e na tradição da Igreja. Mudam apenas os problemas a enfrentar: os desequilíbrios ecológicos, a paz, os direitos humanos, as novas fronteiras da ciência…» A Igreja Católica não pode ser uma instituição de conveniência, adaptando-se aos gostos e caprichos dos fiéis, ou às ondas da moda da sociedade.
Ora agora não convém ter um bebé, por razões económicas, sociais ou outras, por não ser cómodo, então a mulher grávida aborta. E comete-se um crime abominável, tirando a vida a um nascituro. Alguém poderá esperar que a Igreja Católica alguma vez apoie ou permita o aborto? Com este ou outro qualquer papa? E repudiar fortemente o aborto é ser conservador?
Ou já não tenho paciência, nem tempo, para aturar os meus familiares idosos, que para nada servem, e proporciono a eutanásia. E assim promove-se uma sociedade jovialista e descartável. Onde impera o culto do corpo e do “usa-e-deita fora”.
Na Bélgica foi lançado recentemente o “kit eutanásia”. Uma tamanha monstruosidade. Alguma vez a Igreja Católica poderá aceitar isto?
Ou agora acho que os homossexuais devem contrair matrimónio e mesmo adoptar crianças. Alguma vez a Igreja Católica vai permitir esta aberração, como começou a acontecer agora na vizinha Espanha e já existia na Holanda e na Bélgica?
Ou considera-se enfadonho, fora de moda, participar na eucaristia, o sacramento de acção de graças, pelo Ressuscitado, e simplesmente não se vai. Tudo é relativo e aceitável dentro de um conceito de liberdade instalado, sem regras e sem princípios. E por isso, como dizia um padre amigo: hoje baptiza-se cristãos para se converter ateus.
Toda a gente quer ser baptizada, mas poucos vivem como verdadeiros cristãos. Estamos na época do homem “light” no que concerne ao cristianismo. O baptismo é uma oportunidade para um festa muito bonita, materialmente repleta, mas nem pais nem padrinhos são cristãos activos e nem se quer sabem porta-se na eucaristia. Parece que o templo serve apenas de palco para a festa. O mesmo se passa com o sacramento do matrimónio que amiúde não passa de um espectáculo mediático para sociedade assistir.
Um baptizado adquire logo a responsabilidade de ser cristão e assim fiel à Palavra de Deus que é clara: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Isto é através de Jesus Cristo é que se encontra o caminho para o Pai, a sua doutrina é de verdade e representa o meio para encontrar este caminho, para uma vida eterna.
Não podemos dizer que a Igreja é de padres, bispos, cardeais e papas. A Igreja somos todos nós os baptizados, mas vivendo sob princípios cristãos, fundamentados nas Escrituras, com coragem, determinação e alegria.
Que Deus proteja este importante trabalhador na vinha do Senhor, que tomou o nome papal de Bento XVI, e que represente a segurança e a tranquilidade que o catolicismo precisa.

A Vida Não é Referendável

O Bispo de Lamego, D. Jacinto Botelho, que também é presidente da Comissão Episcopal da Família, disse recentemente que a Igreja vai reagir com determinação, face à notícia de que o partido socialista vai entregar uma proposta para a realização de um novo referendo sobre a despenalização do aborto. Considera o aborto uma questão «fracturante» e argumenta que a vida não é referendável.
Para tal o Bispo de Lamego convida os católicos a agirem com serenidade, mas faz uma advertência: "a serenidade não é cruzarmos os braços, é assumirmos posições e sabermos ocupá-las na altura que nos é pedida colaboração".
Este comentário e apelo subsequente aos cristãos é muito oportuno, para que não fiquem impávidos e serenos a aguardar que o Espírito Santo faça tudo, ou seja, inclusive que vá às urnas votar no NÃO, num eventual referendo sobre o aborto.
Há que reagir com coragem e convicção durante a campanha, que se espera muito dura. O primeiro ministro José Sócrates garantiu que vai participar na campanha pela despenalização do aborto, ao contrário do que aconteceu com o ex-primeiro-ministro socialista António Guterres, em 1998. "Vou participar. Sempre me bati por uma mudança da lei", afirmou o primeiro-ministro no parlamento em resposta a uma questão do Bloco de Esquerda, lembrando, contudo, que a interrupção voluntária da gravidez é uma "matéria de consciência" em relação à qual haverá liberdade de voto entre os socialistas.
O aborto está longe de ser apenas uma matéria de consciência. É uma obrigação dos cristãos deste país, a esmagadora maioria, repudiar e lutar pela vida, participando activamente no esclarecimento e na campanha a favor da vida e contra o aborto. Cristo disse claramente ”dou-vos a vida e em abundância”. Têm os cristãos é que seguir a Sua palavra. Nenhum de nós tem o direito de tirar a vida de outro ser humano, ainda que nascituro. É um semelhante a nós, que está no ventre da mãe, ansioso por ter vida exterior.
A pergunta pertinente e falaciosa que o partido do governo se prepara para propor a referendo é a seguinte: «Concorda que deixe de constituir crime o aborto realizado nas primeiras dez semanas de gravidez, com o consentimento da mulher, em estabelecimento legal de saúde?» A acompanhar a proposta de referendo, os socialistas entregaram um diploma que propõe despenalizar o aborto também nas primeiras dez semanas de gravidez «a pedido da mulher e após uma consulta num Centro de Acolhimento Familiar».
O diploma pretende ainda alargar o prazo para a realização do aborto das 12 para as 16 semanas em caso de perigo para a saúde física ou psíquica da mulher, onde se incluem agora também razões de natureza económica ou social, que actualmente não são referidas na legislação.
Significa isto que o aborto vai ser liberalizado até às 16 semanas porque quem quiser vai sempre encontrar razões económicas ou sociais. E com a improvisação e criatividade dos portugueses o infanticídio pode surgir em força.
Indubitavelmente que o aborto é um homicídio de um ser indefeso que também tem direito à vida. Não é uma questão ética ou religiosa é uma questão que a razão reconhece. O nascituro é um ser humano, com uma semana, duas, três, quatro, dez, doze ou dezasseis.
Nada como apresentar um testemunho dramático de um médico judeu, o Dr. Nathanson, que realizou 75.000 abortos: «nasci na fé judia e de tradição hebraica. Por uma série de circunstâncias, que não mencionarei, perdi a fé completamente em minha infância e adolescência, a ponto de chegar a ser chamado de judeu ateu. Então, sem moral centrada em Deus e, impulsionado por firme dedicação a uma situação relativista e também uma moral relativista ou de situação, coloquei-me, imediatamente, ao serviço do pior e mais completo dos males: o ataque à vida. Fui um dos organizadores do NARAL (National Abortion and Reproductive Rights Action League), nos Estados Unidos, que era um grupo cabalístico poderoso para lutar contra todas as leis que se opunham ao aborto. Percorri os Estados Unidos inteiro e estive em outros países, nesta cruzada a favor do aborto. Simultaneamente, fui Director da maior Clínica de Abortos do mundo ocidental e durante dois anos fui totalmente responsável por 75.000 abortos»
E continua o Dr. Nathanson: «com o passar do tempo, na década de 70, todas as razões sociais e médicas para o aborto, não as aceitava mais. Actualmente, creio que não há razões sociais, económicas, médicas, psicológicas para o aborto; não há razão alguma»
Passados estes anos de homicídios em catadupa o Dr. Nathanson passou a ser um activista da vida, contra a cultura da morte. E hoje está na linha da frente da luta pela vida.
E para evidenciar ainda mais esta aberração ética e científica e incongruência cristã do aborto, apresentamos uma foto de um feto com 10 semanas encontrado numa lixeira nos Estados Unidos. De facto uma imagem vale mil palavras. Nada mais!

A Cultura da Morte: O Aborto

O primeiro-ministro afirmou na sessão parlamentar de apresentação do programa do XVII Governo Constitucional, que levará a cabo durante a sua legislatura um novo referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez. Os "sinais de evolução" que houve na sociedade portuguesa, desde a última consulta popular, e a "subsistência do drama do aborto clandestino" são as principais razões para o referendo. E ainda José Sócrates garantiu que vai participar na campanha pela despenalização do aborto. No final do debate o partido socialista entregou um projecto de resolução para que se realize um referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez, o mais rapidamente possível, e apresenta proposta de despenalização da interrupção voluntária da gravidez nas primeiras dez semanas, a pedido da mulher e após uma consulta num Centro de Acolhimento Familiar.
Assim este jardim à beira-mar plantado, denominado de Portugal, vai evoluir em direcção à cultura da morte, à semelhança do que aconteceu nos últimos anos na vizinha Espanha. Um total de 77.125 abortos foram praticados só em 2002. Significa 211 abortos por dia, ou seja 1 aborto em cada 6 minutos e 49 segundos. Impressionante infanticídio! Há 125 centro de morte acreditados em Espanha. O negócio do aborto em Espanha representa cerca de 50 milhões de euros.
Estima-se que em Espanha no período 1991-2002 assassinaram-se 653.138 seres humanos indefesos. Uma arrepiante mortandade. Assim o aborto é a primeira causa de morte em Espanha. Muito mais do que o cancro e as doenças cardiovasculares. É esta cultura de morte que querem promover em Portugal.
O aborto não envolve apenas uma questão moral ou religiosa, mas fundamentalmente científica.
O eminente e conhecido cientista, Jérôme Lejeune, professor da universidade de René Descartes, em Paris, que dedicou toda a sua vida ao estudo da genética fundamental, descobridor da Síndrome de Down (mongolismo) diz claramente: «Não quero repetir o óbvio mas, na verdade, a vida começa na fecundação. Quando os 23 cromossomas masculinos se encontram com os 23 cromossomas da mulher, todos os dados genéticos que definem o novo ser humano já estão presentes. A fecundação é o marco do início da vida. Daí para frente, qualquer método artificial para destruí-la é um assassinato». O aborto é pois claramente um homicídio. É retirar a vida a um ser humano, um nascituro .
O presidente do Senado italiano, Marcello Pera, um assumido não-crente, num debate celebrado na Universidade Pontifícia de Latrão afirmava recentemente que «o embrião é uma pessoa desde sua concepção».
A Dr.a Elizabeth Kipman Cerqueira, médica ginecologista, integrante da Comissão de Ética e Coordenadora do Departamento de Bioética do Hospital São Francisco, em São Paulo, afirma categoricamente: «Os tratados de Medicina continuam afirmando que o início da vida humana acontece no momento da união do óvulo e do espermatozóide. Mesmo grandes defensores do direito irrestrito da mulher ao aborto concordam com esta afirmativa. Por exemplo, Peter Singer, filósofo e professor, defensor do direito ao aborto, ao ser perguntado: Para o senhor, quando começa a vida?, respondeu: Eu não tenho dúvida de que a vida começa na concepção».
A ciência demonstra, essencialmente com os potentes microscópios electrónicos, que o ser humano, recém fecundado, tem já o seu próprio património genético e o seu próprio sistema imunológico diferente da mãe. É o mesmo ser humano - e não outro - que depois se converterá em bebé, criança, jovem, adulto e mais tarde idoso.Aceitar, portanto, que depois da fecundação existe um novo ser humano, independente, não é uma hipótese irreal, é sim uma evidência experimental.
Se o embrião é um ser humano, o problema do aborto não é somente um problema religioso, mas de ética natural: envolve um homicídio.
E como envolve um homicídio deve ser considerado crime. O aborto é pois uma incoerência ética e uma aberração científica.
Perante este desejo político de enveredar pela cultura da morte os cristãos deste país têm de defender a vida, sempre em coerência com a palavra de Cristo. Não há lugar para cristãos receosos, tímidos e encolhidos. Há que ter coragem e bater o pé a esta cultura da morte, que nos querem forçosamente impor.
Na Região Autónoma dos Açores espero não ver mais uma vez a hierarquia da Igreja silenciada, vergada ao poder, apática e indiferente perante este assalto à morte de seres indefesos, que têm todo o direito à vida, como a sua mãe teve, e que agora o pretende matar.
O referendo pretendido, e com a participação directa do primeiro ministro a favor da liberalização do aborto, não vai ser isento e equitativo, na medida em que os meios financeiros e logísticos vão estar do lado dos promotores da morte. A Igreja, hierarquia e comunidade de leigos, tem de sair do Templo e vir para a rua onde o combate se vai realizar. Trata-se de um combate duro, para valentes, que é preciso preparar desde já.

Onde Está a Sociedade Civil Açoriana?

Onde está a Sociedade Civil Açoriana?
A sociedade civil, de acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da responsabilidade da Academia das Ciência de Lisboa, é definida como “o conjunto de cidadãos unidos pela sua consciência cívica, embora não partilhando laços políticos, sociais ou culturais”.
É este conjunto de cidadãos que se procura nos Açores. Por que desapareceram da vida corrente, foram absorvidos pelo poder político. A teia do poder instalado “engoliu” a sociedade civil açoreana. E esta é inexistente nestas ilhas, desde as mais pequenas às maiores. É um fenómeno social que começa a ser deveras preocupante.
Primeiro porque a sociedade civil surge sem voz, sem acção e indiferente.
Em segundo lugar, e porque isto acontece, a classe política passa a assumir um protagonismo invulgar e desmesurado, desproporcional à sua capacidade intelectual e profissional. Há muitos cidadão com míngua de formação cívica e profissional que estão a assumir responsabilidades colectivas excessivas. E em vês de zelarem e defenderem o bem comum defendem a sua perpetuação no poder e os seus interesses mais directos. São muitos aqueles que gerem o bem comum sem capacidade para tal. E são ainda muitos mais aqueles que coabitam com esses cidadãos, na expectativa de algumas migalhas da mesa do poder.
O gigantismo do estado nesta Região não permite o desenvolvimento da sociedade civil. Senhor Ministro da República, pode organizar dezenas de Congressos da Cidadania que nada se vai alterar! O desaparecimento da sociedade civil é uma questão de fundo que importa analisar.
Podemos afirmar, sem grande erro, que metade da riqueza criada nos Açores é proporcionada pela administração regional, através das despesas do seu funcionamento e dos seus investimentos.
Para o ano de 2005, as despesas correntes e os investimentos são 1.050 milhões de euros. Um valor astronómico para uma Região que tem um PIB de cerca de 2.500 milhões de euros.
Os funcionários públicos nos Açores ultrapassam 20% da população activa. São quase 21.000 funcionários públicos. Um em cada 5 açorianos activos é funcionário público.
Assim a administração regional possui um poder tentacular e assim omnipresente. Não existe sociedade civil exactamente por isso. Os cidadãos estão dependentes directa ou indirectamente do Estado. E por isso eclipsaram-se, perderam a voz e a consciência cívica. O governo dispõe de recursos financeiros que “compram” o silêncio e a indiferença de quase todos os agentes económicos.
Não vá o diabo tecê-las e os cidadãos perderem aquele desejado subsídio para o clube desportivo do seu coração. Ou aquele subsídio para o novo instrumental da banda de música, ou até para aquela deslocação aos Estados Unidos do grupo folclore ou de cantares da freguesia.
Aquela oportunidade de ter uma casa nova a custos controlados e assim mais em conta. Ou aquele negócio de fornecimento de computadores para uma secretaria regional. Ou o fornecimento de papel para os serviços do governo. Ou mais importante ainda, aquela interessante empreitada que vai dar trabalho durante um ano à empresa e que vai contribuir para manter dezenas de empregos.
Aquele tão desejado emprego para o filho, a acabar o curso superior. Ou aqueles benefícios concedidos às associações empresarias. Ou mesmo aquela aprovação de um loteamento que vai proporcionar uma mais-valia considerável. Ou aquela licença de construção da moradia de projecto arrojado. Ou aqueles apoios financeiros aos media que tanto jeito dão nos dias de hoje. Ou aquele passeio anual de idosos, sempre tão agradável, no Golfinho Azul.
Há milhares e milhares de açorianos com estas preocupações. E deliberadamente optaram pelo silêncio. Aprenderam assim a enveredar pelo “politicamente correcto” e meteram na gaveta a cidadania, ou melhor, o seu exercício. E o Estado não se faz rogado e assume um poder paternalista, controlando tudo e todos.
Os parceiros ditos sociais, que deveriam defender a sociedade civil aparecem fragilizados, macios e submissos.
Desapareceu a sociedade civil Açoriana, que tanta falta faz a esta Região. Vivemos num totalitarismo déspota e omnipotente do Estado, na sua expressão regional.
Começa a faltar oxigénio à sociedade Açoriana, quiçá como às lagoas que rapidamente estão a transformar-se em verdadeiros pântanos. Por que desapareceu a sociedade civil.

A Droga de Políticos que Temos

A droga medra a olhos vistos na Região, enquanto a classe política, mormente a que exerce funções executivas, se preocupa essencialmente com o betão, sob a forma de um aberrante e megalómano cais acostável de paquetes em Ponta Delgada, um investimento de 40 milhões de euros, sem se vislumbrar qualquer rendibilidade. Ou se preocupa com estradas na modalidade SCUT, (Sem Custos para o Utilizador) mas com elevados custos para o contribuinte Açoriano. Ou até mesmo a apoiar equipas de futebol com milhões de euros, fomentando uma classe de jogadores de fora e gestores desportivos carentes de protagonismo e minguados de competência e idoneidade, e por isso exercendo gestões ruinosas, que tanto prejudicam as algibeiras dos contribuintes destas ilhas.
E enquanto a droga medra nas escolas, atingindo fortemente muitas famílias, há nos Açores 53 ex-deputados com subvenções vitalícias que variam entre 1.000 e 3.500€, numa despesa anual de 1,5 milhões de €, paga por todos os já depauperados contribuintes dos Açores. E ainda se houve partidos políticos a apresentarem soluções de revisão da lei eleitoral que passam pelo aumento dos actuais 52 deputados. O partido socialista quer mais 5 deputados e o partido popular mais 7. Isto a par da notícia de que não houve sessão parlamentar em Fevereiro por nada haver para analisar ou debater. É o interesse corporativo a vir ao de cima. Vergonhoso e injusto!
Enquanto a droga medra nas instituições de acolhimento de crianças e jovens os ex-deputados recebem subsídios de reintegração de 25.000€ se estiveram 1 mandato e 25.000€ se fizeram 2 mandatos. Inqualificável para quem devia possuir apenas o sentido de servir os seus concidadãos!
É a droga de políticos que temos nesta Região. O povo destas ilhas não merece isto. Não merece esta discriminação entre políticos e governantes fartos, à beira da aerofagia, e cidadãos à margem da sociedade, lutando na penumbra pela sua sobrevivência: crianças em risco, toxicodependentes, alcoólicos, sem abrigos, idosos, doentes e pobres.
E a droga aumenta sem reacção digna de registo especialmente da parte do governo. Uma inércia preocupante e assustadora. Nem prevenção, nem tratamento adequado. Abandonados à sua sorte estão os toxicodependentes e os jovens açorianos em idade escolar.
O último estudo digno de registo foi o Inquérito Nacional em Meio Escolar, realizado junto de 25.000 jovens do 3º. ciclo do ensino básico, com recolhas em Novembro de 2001, e que apresenta os piores resultados possíveis para os Açores. Nestas ilhas, 1 em cada 5 jovens de idade entre 14 e 16 anos, tiveram já experiências de consumo de drogas. Isto é 19% dos jovens inquiridos. A média nacional ronda os 14%. A Madeira tem uma taxa de 12%. Os Açores estão no topo nacional dos adolescentes toxicómanos. Muito grave, mas ainda não suficientemente grave para mover e tocar os nossos políticos.
Por seu lado os resultados, apenas sobre o consumo de cannabis, indicam que 14% dos jovens açorianos que frequentavam o 3º. ciclo, tiveram experiências com esta droga. De novo a taxa mais elevada do país, que tem uma média de 10%. A Madeira tem 9%. Andam todos os nossos políticos voltados para o raio do betão, e não vêem ou não querem ver a droga que nos rodeia.
Relativamente ao álcool, a situação é ainda pior: 3 em cada 4 jovens teve experiências de consumo. Como os Açores, só a região do Alentejo. A média nacional é de 67%. Na Madeira é de 61%. Deplorável!
O universo do estudo, são jovens de tenra idade, os futuros homens de amanhã, os principais recursos destas ilhas. Jovens que se degradam nas drogas ilícitas e nas lícitas (álcool).
A coordenadora da Associação Alternativa veio recentemente reconfirmar esta situação, dizendo que a toxidependência está a atingir jovens, cada vez mais novos. Rapazes e raparigas vêm-se envolvidos no mundo da droga com 13 e 14 anos. Triste realidade que muitos querem esconder a todo o custo!
Fuma-se um “charro”, consome-se “chamon” e injecta-se heroína nas escolas dos Açores, com a maior facilidade. Este comportamento passou a ser banal, sem qualquer controlo ou vontade de se atacar este problema social grave. Alunos de 12 e 13 anos já são consumidores de drogas ditas “leves”. E encontram-se na rampa de lançamento para as outras drogas: ecstasy, cocaína e heroína. A classe política, e neste caso também a comunidade escolar, parecem nada ligar. Todos estão a “assobiar para o lado”, numa atitude reprovável e irresponsável. E os dirigentes escolares vão mais longe e continuam a dizer, cinicamente, que na sua escola não há drogas. Que indiferença e desfaçatez!
Se há recursos financeiros para tudo e mais alguma coisa como se explica que não haja para campanhas de prevenção da toxicodependência? E do álcool, uma verdadeira chaga social? Não há é vontade política, num sistema trôpego, onde a justiça não funciona, a saúde é deficiente, e os políticos enredam-se entre si, em círculos concêntricos, olhando para o seu próprio umbigo. Por outro lado os responsáveis escolares limitam-se a enterrar a sua “cabeça na areia” à espera que o tempo passe. Os professores e os auxiliares de educação sabem do que se passa, mas não denunciam, por medo ou por comodismo. Péssimo exemplo de cidadania.
O consumo de drogas nos Açores é verdadeiramente grave. O consumo de álcool é muito preocupante. E mais preocupante ainda é que os grandes consumidores começam a ser os jovens em idade escolar. Tudo isto porque temos uma droga de políticos e de governantes e uma sociedade amorfa apática e irresponsável! Até que a desgraça bata às suas casas! Nesta altura vão reagir e sentir a gravidade da situação.

O Padre Lereno e a Política da Família e da Vida

O Padre Lereno e a Política da Família e da VidaAs declarações do Padre Lereno Dias, da paróquia de S. João de Brito em Lisboa, na homilia da eucaristia do domingo 6 de Fevereiro “chocaram” a classe política, que reagiu de imediato.
O Padre Lorena, com coragem e lucidez, exortou os fiéis a rejeitarem, com o arma que têm agora ao seu dispor, o voto, os programas eleitorais “indignos” da ética cristã. Referia-se àqueles programas políticos que defendem o aborto, ou a eutanásia, ou a clonagem humana, ou o casamento de homossexuais e a adopção de crianças, ou a equiparação de uniões de facto à família.
São aqueles programas políticos que, ao invés de defenderem e promoverem a vida e a família, promovem uma cultura da morte, sob a forma da permissão do aborto e da eutanásia ou uma cultura libertina de promiscuidade sexual.
De facto após o debate da televisão entre os lideres dos principais partidos políticos, do espectro do poder, ficamos a saber que José Sócrates é a favor da realização de um referendo sobre a lei do aborto. Acha que só assim se combate o aborto clandestino e que é inadmissível num país civilizado a perseguição de mulheres que abortem.
Quanto ao casamento de homossexuais e adopção de crianças diz que não há ainda maturação social suficiente para discussão e decisão sobre estes temas. É apenas uma questão de tempo.
Santana Lopes admite a necessidade do aprofundamento da união de factos do mesmo sexo ou de sexos diferentes e admite a eutanásia em certas situações. E abre a porta a um referendo sobre o aborto para alteração da lei actual.
Ambos os lideres dos principais partidos abrem o caminho em direcção à liberalização da lei do aborto e respectiva despenalização dos agentes envolvidos, e à eutanásia. Dão assim mais um passo em direcção à cultura da morte.
É altura dos cristão deste país mostrarem um cartão vermelho a estes políticos. Se não, corremos o risco de sermos finalmente “evoluídos” na cultura da morte, como agora na vizinha Espanha, ou na Holanda ou mesmo no Reino Unido.
Geraldo Agnelo, arcebispo de Salvador e presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) numa artigo publicado recentemente diz que ”um embrião não é um grumo de células, mas um indivíduo da espécie humana, e não é necessário partilhar uma visão cristã para compreender isto. Não se trata de uma verdade de fé, e sim de uma verdade que a razão é capaz de reconhecer”.
Depois explica que ”o embrião, apesar de seu pequeno tamanho, contém a informação genética (genoma) que presidirá ao seu desenvolvimento, até o nascimento e até a idade adulta. Não é vegetal, é animal. Tem a estrutura genética de um vertebrado, mamífero, humano. Desenvolveu-se humanamente, tanto é verdade, que pode ser submetido a tratamento terapêutico, para garantir o seu desenvolvimento”.
E depois conclui o arcebispo Agnelo “Existindo uma sequência do DNA típica e exclusivamente humana, cada ser que a possui pertence à humanidade e é um ser humano.
Portanto quer Santana quer Sócrates, ao pretenderem referendar a lei do aborto, dão oportunidade, mais uma vez, a que a cultura da morte se fortaleça neste jardim à beira mar plantado. Porque o aborto é a morte de um ser humano. E a eutanásia é o retirar a vida a um ser humano.
E esta cultura da morte traz os seus frutos: a violência, a brutalidade, e a prevalência do critério da utilidade sobre a dignidade sagrada e inviolável da pessoa. Por isso, os cristão, que são a esmagadora maioria dos eleitores de Portugal, já que não conseguem influenciar e modelar os partidos por dentro, em relação a questões da vida e da família, devem fazer por fora, usando o seu voto nas urnas e penalizando os partidos que apostam mais na cultura da morte do que na promoção e defesa da vida.
Faltam de facto mais padres Lorenas! O país bem precisa de verdade, de posições claras e inequívocas, de convicções e acima de tudo de coragem. E os cristão têm de se assumir e aparecer, nesta sociedade niilista, materialista e egoísta. Só assim serão verdadeiras testemunhas de Jesus Cristo, que operou a maior ruptura social e religiosa da humanidade.

Questões da Vida e da Família

As legislativas de 20 de Fevereiro caminham a passos largos e mais uma vez a verdadeira discussão e debate públicos praticamente não existe. Mas que deve e tem de existir esta discussão e debate políticos todos concordamos. Há questões fundamentais que devem ser esclarecidas e debatidas pelos candidatos a deputados pelo círculo dos Açores. Isto é também cidadania, de que tanto se fala.
Os futuros deputados, como representantes deste povo insular, devem traduzir a opinião e vontade da maioria da população. E nunca agir da sua própria cabeça ou ao abrigo de qualquer disciplina partidária redutora e irrealista. Mormente no que se refere a questões raramente debatidas e de uma importância fulcral: questões da Vida e da Família.
Indubitavelmente que a Lei das Finanças Regionais é um assunto de importância para o financiamento da Região. Assim como o aprofundamento da autonomia, eventualmente também da lei eleitoral e da revisão do estatuto político - administrativo da Região. São temas que devem ser debatidos com serenidade, competência e elevação cívica.
Mas não se pode ficar por aí. Há questões pertinentes relacionadas com a Vida e a Família, que dizem muito aos açorianos, e devem ser amplamente debatidas também. Queremos saber a opinião dos candidatos a deputados, mormente dos cabeças de lista dos principais partidos políticos.
Queremos saber o que o Dr. Mota Amaral pensa sobre a alteração da lei do aborto. Deve-se manter o quadro legal de sanções existente? Deve-se considerar o aborto como crime para todos os seus agentes? Apoiará legislação sobre a legalização da eutanásia? E sobre a clonagem humana?
E o que pensa o Dr. Ricardo Rodrigues sobre o reconhecimento do embrião como ser humano, e como tal protegido em termos penais? E se for apresentada legislação sobre a legalização do casamento de homossexuais vai aprovar ou não? E da possibilidade das uniões de homossexuais adoptarem crianças?
Olhos nos olhos os eleitores destas ilhas devem saber o que pensam os candidatos a deputados sobre questões da Vida e da Família.
Não podemos andar constantemente a passar cheques em branco a estes cidadãos, que poderão ser os nossos deputados. Queremos clara e inequivocamente saber como se vão portar no hemiciclo, perante estas questões, para não termos surpresas.
Que conceito de família é que tem o Dr. Ricardo Rodrigues e o Dr. Mota Amaral? Famílias de homossexuais, mono-parentais, união de facto, ou a família tradicional e genuína de marido, mulher e filhos?
Que pensam fazer para corrigir a penalização fiscal que incide sobre o casamento e sobre casais com filhos?
E o que defendem para combater a pobreza e a exclusão social que grassa na Região? Como pensam intervir para termos uma justiça mais célere e eficaz na Região?
Queremos saber o que vão fazer para proporcionar mais segurança nos Açores, que começa a ser preocupante, por falta de efectivos policiais e pela onda de libertinagem e vandalismo que assola algumas das nossas ilhas.
Pretendem os eleitores açorianos saber o que pensam fazer para que o Tribunal de Família e de Menores funcione, e que resolva atempadamente situações graves de crianças em perigo, ou de crianças a “apodrecer” nas instituições de acolhimento, sem um projecto de vida?
Acabemos com o “raio” do politicamente correcto, da retórica inconsequente ou da argumentação falaciosa. Estamos todos fartos até dizer basta!
Queremos verdade na boca dos nossos candidatos a deputados. Estamos saturados de falas baratas e ardilosas. De políticos autómatos e autistas, ausentes e desintegrados dos seus eleitores. E por isso queremos saber como é que pensam interagir com os seus eleitores após eleitos? Ou só os vamos ver novamente na próxima campanha eleitoral?
Só assim os açorianos podem votar em liberdade e segundo a sua consciência.

A Família Constrangida e Condicionada

Profundas alterações sócio-económicas se verificaram nas últimas 3 décadas nos Açores, mas ainda mais drásticas mutações se vão concretizar na próxima década.
Este novo ambiente sócio-económico, que se começa a viver, está a pressionar e a condicionar a família açoreana: nos seus valores, no seu comportamento cívico e religioso, nos seus padrões de consumo, no seu nível de rendimento, no seu emprego e exigências profissionais, na sua educação e formação, no seu pensamento, na sua coesão e em suma, no seu modo de vida.
E infelizmente surgem já sinais de que a família está constrangida e condicionada: um número crescente de divórcios nos Açores, com uma taxa de 2,8 por mil, acima da média nacional; uma tendência para alterar o conceito de família, com 5.000 pessoas já a viverem em união de facto; um número crescente de filhos fora do casamento, portanto de pais solteiros ou em união de facto, de 17% (média nacional 25%); e o surgimento da família “light”, monoparental ou de casais do mesmo sexo.
Também o aumento da violência doméstica e o crescimento do número de crianças e jovens em perigo. Nos Açores existem mais de 600 crianças e jovens institucionalizadas, e outras tantas a deambular nas ruas e em perigo eminente. Nos Açores, em 2002, 10,9% dos partos foram de mães com idades entre 15 e 19 anos, a percentagem mais alta do país (média 5,8%).
Depois os pais parecem não ter tempo para os filhos: segundo o INE, 40 minutos é o que cada família portuguesa, em média, despende por dia com o acompanhamento das crianças (ensino e conversa). E apenas 1 hora e 20 minutos em cuidados regulares (refeições e higiene diária) e uma hora em cuidados físicos e de vigilância. Por outro lado os portugueses passam actualmente em média 3h e 27m em frente ao écran de televisão.
Mais grave é o facto de, nos Açores, 1 em cada 5 jovens de idade entre 14 e 16 anos, terem tido já experiências de consumo de drogas. Isto é, 19% dos jovens inquiridos. A média nacional ronda os 14%. A Madeira tem uma taxa de 12%. Os Açores estão no topo nacional dos adolescentes toxicómanos.
Relativamente ao álcool, a situação é também alarmante: 3 em cada 4 jovens teve experiências de consumo. Como os Açores, só a região do Alentejo. A média nacional é de 67%. Na Madeira é de 61%.

Face a estes tristes e preocupantes sinais, os desafios, nesta sociedade insular e pequena, são muitos, a indiciar oportunidades de intervenção dos cidadãos, dos cristão e dos seus movimentos, e da própria Igreja.
É preciso quanto antes acção, mas de forma organizada. Não vale, não serve, esconder esses problemas, há que enfrentá-los com coragem, perseverança e vontade de os debelar ou minimizar.
O Centro de Aconselhamento Familiar (CAF), recentemente instalado em S. Miguel, é um exemplo da acção que se justifica e se precisa urgentemente. Muitos dos problemas familiares que surgem podem ser debelados através da mediação familiar e com a ajuda de especialistas. O recurso ao advogado deve ser em última instância e quando todos os outros meios estiverem esgotados. O que se assiste é um correr desalmadamente para o advogado, à mínima questiúncula familiar, e que por vezes acaba mesmo em divórcio, essa “praga” que assola também a nossa sociedade insular. Vivemos numa época em que ninguém quer assumir compromissos, e quando os há, rapidamente são desfeitos, em prol de uma sociedade materialista, niilista e egoísta. De facto nunca os homens tiveram tanto conforto material, mas também nunca foram tão infelizes, mesmo nestas maravilhosas ilhas dos Açores.

O Pecado da Insensibilidade

O Pecado da Insensibilidade
O pecado da insensibilidade atravessa toda a sociedade actual, que se mantém indiferente ao que se passa não só ao seu lado como ao que se passa no mundo, e que nos entra diariamente pelos media.
Insensível ao vizinho idoso que precisa de ajuda, à criança abandonada e em perigo, que clama por justiça, ao toxicodependente que deseja uma mão amiga para o puxar da lama, aos sem-abrigo sempre á espera de uma alma caridosa, ao doente hospitalizado na mais profunda solidão, ao presidiário carente de amor e perdão, à miséria moral que grassa infelizmente por muitas localidades nestas ilhas, à viúva que vive com dificuldades fruto de uma miserável reforma, ao colega de trabalho que passa por problemas graves e que precisa de ânimo e atenção.
Isto para não falar do que se passa mais longe. O terramoto e consequente maremoto verificado no sudoeste asiático, uma enxurrada nas Filipinas onde morrem centenas de pessoas, combates diários nas ruas de Bagdade, com muita violência e mortes, atentados em Israel ou na Faixa de Gaza, a morte dolorosa de milhares de portugueses nas estradas, com imagens de corpos decapitados e chapa enrolada, a morte violenta de crianças, feita telenovela televisiva, os horrores cometidos sobre crianças e jovens da Casa Pia que clamam por justiça.
E permanecemos insensíveis, impávidos, imobilizados, de coração empedernido, a assistir a tudo isto. Cometemos o grave pecado da insensibilidade, de difícil arrependimento. A brutalidade das imagens que nos entram pela casa dentro já não nos chocam, e assistimos, de pantufas, no nosso sofá, sem um mínimo esboço de qualquer reacção ou de compaixão pelo sofrimento alheio. Vivemos numa sociedade indiferente e insensível.
É a oferta televisiva de violência, sexo, valores duvidosos, intriga social, que entra pela casa dentro sem qualquer filtro ou cerimónia.
São 3 horas e 27 minutos a média que os portugueses gastam a ver televisão. Muita porcaria absorvem durante este tempo. E depois dão um péssimo exemplo aos jovens, aos filhos, que assistem a esta insensibilidade.
Há 20 ou 30 anos quando uma catástrofe ou desgraça se abatia sobre uma região ou país, sensíveis, as pessoas sentiam e oravam por aqueles que sofriam. Nas igrejas rezava-se pelo fim das guerras que devassavam o mundo. Apelava-se á paz, e orava-se.
No mundo de hoje nem à igreja vão as pessoas, muito menos rezam pelos outros: os pobres, os injustiçados, os sofridos, os idosos, os doentes, os toxicodependentes, os marginais etc...
Não há tempo para se quer pensar no outro. É a cultura do ter, a suplantar a cultura do ser. É o individualismo puro, o consumismo descontrolado, a ausência de espiritualidade. É o “homem light” de que nos fala Enrique Rojas, que se parece com os produtos light: alimentação sem calorias e sem gorduras, cerveja sem álcool, açúcar sem glicose, tabaco sem nicotina, coca-cola sem cafeína e sem açúcar, manteiga sem gordura. Sem sabor, artificialmente tratados.
Um homem sem conteúdo, entregue ao dinheiro, ao poder, ao êxito e ao prazer ilimitado e sem restrições.
Este homem carece de pontos de referência, vive num grande vazio moral e não é feliz, ainda que tenha materialmente quase tudo.
É o homem que comete o pecado da insensibilidade.
Desejos de um solidário e fraterno ano novo.

A Súplica de uma Criança

“Senhor, não quero pedir- Te nada de especial nem difícil . Hoje só quero pedir- Te um grande favor, sem que os meus pais se apercebam: faz de mim um televisor!
Sim, faz de mim um televisor, para que os meus pais se interessem por mim como se interessam pelo televisor, para que olhem para mim como minha mãe ou o meu pai acompanham os seus programas preferidos; quero falar como essas pessoas, porque quando elas falam, toda a minha família se cala para as escutar. Desejo ver a minha mãe dar tantos suspiros à minha frente como faz quando olha para o televisor. Queria que o meu pai se risse tanto comigo como faz quando acompanha um programa cómico na televisão.
Desejaria ser o televisor para ser o rei da casa, para me tornar o centro das atenções, para ocupar o melhor lugar, para que todos os olhares se voltassem para mim.
Desejaria que os meus pais se preocupassem tanto comigo como se preocupam quando o televisor se avaria.
Desejaria fazer companhia à minha mãe, quando ela se sente sozinha, quando se sente triste.
Gostaria de ser televisor para ser amigo dos meus pais e a pessoa mais importante para eles.
Pai do Céu, se me transformasses num televisor, eu poderia ter outra vez pais, e ser outra vez feliz. Por favor, Pai, faz de mim um televisor!” (Autor desconhecido)
De facto vivemos numa sociedade em que os pais não têm tempo para os filhos. Segundo um estudo recente do INE, cada família portuguesa, em média, despende por dia com o acompanhamento das crianças (ensino e conversa) apenas 40 minutos. E cerca de 1 hora e 20 minutos, por dia, em cuidados regulares (refeições e higiene diária) e uma hora em cuidados físicos e de vigilância.
Em média os pais passam mais tempo a ver televisão por dia, do que a cuidar dos filhos. Os portugueses passam actualmente em média 3h e 27m em frente ao écran da televisão. É preocupante!
A televisão domina o ambiente familiar e condiciona a família de forma decisiva. É um intruso que se instala na família, para o bem e para o mal. É um intruso que tem de ter as suas regras, para que haja uma verdadeira harmonia familiar, com base no diálogo, na disponibilidade e no amor.
Atiremos uma forte pedrada ao charco, neste Natal, e sejamos menos telespectadores e mais família. As crianças, mais tarde, vão apreciar e agradecer.
Um bom e santo Natal.

As Impurezas dos Políticos

O Bispo de Aveiro, D. António Marcelino, é daquelas personalidades que nos habituaram a uma frontalidade e clarividência notáveis, destacando-se nesta pobre, cinzenta e indiferente sociedade portuguesa.
Num artigo, no Correio do Vouga, o prelado considera “pobre, demasiado pobre, a nossa cultura política”.
E com uma lucidez invulgar, aponta o que considera ser as “impurezas” da acção política: “favores que se pagam, facturas que se apresentam a saldar, gente que se vê subir com a ajuda de mãos invisíveis, cadeiras não adaptadas aos que nelas se querem sentar, pôr na luz da ribalta jovens que ainda não tiveram tempo para aprender na escola da vida, e que mal abrem a boca, julgam dizer a última palavra sobre o assunto, zangas de compadres e rivalidades incontidas entre sócios do mesmo clube”.
Mais diz o Bispo de Aveiro que “o povo que vota, trabalha e paga impostos anda, normalmente, muito arredado das discussões políticas e daquilo que as provoca. Porém não está alheio às perturbações e consequências que delas derivam”.
Vai ainda mais longe e diz que “na política não têm lugar os que só pensam em si e no seu partido”. E avisa: “o povo aguenta, mas a paciência tem limites”.
Como diria o meu avô, “boca santa” esta do Bispo de Aveiro. Uma enorme pedrada no charco, onde “vivem” os políticos e desenvolvem a política que temos.
Contudo afirmações desta natureza não aparecem na comunicação social de grande expressão, quiçá totalmente feita com os políticos, e pertencente a poderes económicos coligados com políticos no poder, ou à beira do poder. De facto precisamos urgentemente de novos políticos e de nova política. Políticos humanistas, solidários, sérios, serenos e sensatos, e conscientes do serviço público que prestam. Governantes e autarcas que cada vez que autorizem uma despesa, pensem sempre, que se trata de dinheiro dos contribuintes, e exclusivamente para o bem comum.
Infelizmente, nos Açores, temos uma classe política que enferma das mesmas impurezas, que a sua congénere nacional.
É analisar o rol de cidadãos que são chamados para cargos políticos. Muitos deles sem qualquer formação, pessoal ou mesmo profissional. Limitam-se a gravitar à roda de um secretário, de um presidente de câmara ou de um presidente do governo. Gente míngua de conhecimentos, mas com sede de poder. Gente que se apunhala constantemente, que se acotovela e que se coloca em bicos dos pés para serem notados. Que se especializa na intriga, no clientelismo, na petulância e no seguidismo. Gente que aprende logo a fazer de conta, a ludibriar a opinião pública. Gente que apura o narcisismo, e olha para si essencialmente, e às vezes para o partido que a suporta. Salvo honrosas excepções, são em geral gente impura e ímpia.
Não é por acaso que esta gente não é benquista, e representa nos dias de hoje uma classe pouco apreciada ou até detestada, ironicamente pelo próprio povo que a elege, mas que logo depois aprende a repudiá-la.