quarta-feira, janeiro 11, 2006

Maus economistas ou maus governantes?

O Secretário Regional da Habitação e Equipamentos considera "maus economistas" aqueles que não têm a visão cor-de-rosa da economia dos Açores. Ou seja “maus economistas” são todos aqueles que não são avençados do governo. São todos aqueles que têm a liberdade de emitir uma opinião isenta e independente, com base em dados concretos e de entidades idóneas.
Mas o povo, na sua imensa sabedoria, diz e com razão: é mais fácil apanhar um mentiroso do que um coxo. Logo após a qualificação de “maus economistas” pelo Secretário em causa, saíram em catadupa mais indicadores económicos bastante desfavoráveis à economia dos Açores.
Já em Setembro, e segundo o INE, na sua publicação Contas Regionais –2003, soubemos que o crescimento real do PIB dos Açores foi negativo, de –0,8%.
Pior do que os Açores foi a região Norte e a do Centro, com crescimento negativos de –2,2% e –1,2% respectivamente. A Madeira por seu lado teve um crescimento real positivo de 1,7%.
Portanto, para uma região insular, pobre e na cauda do desenvolvimento de Portugal e da U E, e beneficiando de um invulgar e avultado fluxo de fundos do exterior, é um péssimo desempenho, nada cor-de-rosa, a puxar muito mais para o negro.
O comportamento das Regiões do Norte e Centro é puramente conjuntural e rapidamente poderão recuperar, não devendo servir de comparação.
Também este estudo apontou para uma forte diminuição do Valor Acrescentado Bruto (VAB) na actividade agrícola de -4,9%, uma diminuição na indústria de -1,5% e uma quase estagnação no sector terciário (0,5%), para os Açores.
A Região Autónoma dos Açores apresentou em 2003 um dos piores índices inferiores de disparidade do PIB per capita e produtividade (17% e 19%). A Madeira apresentou índices superiores de 21% e 16%.
Assim ficámos a saber que o PIB per capita dos Açores é ainda de apenas 83% da média nacional. Por seu lado a produtividade é de 81% da média nacional e a baixar. E em conclusão soubemos que o PIB per capita dos Açores representa apenas 56% da média U E, a 15 países.
Na semana passada, com a publicação das Contas das Famílias de 2003, ficamos a saber que o rendimento disponível bruto das famílias açorianas apenas aumentou 0,3%, quando a nível nacional subiu 2,6%. Os Açores tiveram assim a pior evolução de todas as regiões do país. Por outro lado a Madeira teve um crescimento de 4,2%.
No rendimento primário, em que se excluem as transferências de redistribuição, o único decréscimo regional verificou-se nos Açores, tendo ascendido a -1,1%, enquanto a nível nacional se observou um aumento de 1,7%.
Também recentemente, num estudo do insuspeito economista Abel Mateus, ex-ministro de António Guterrez, a conclusão não podia ser mais desastrosa. Passados duas décadas de fundos estruturais da União Europeia, estes não trouxeram o devido crescimento económico e muito menos o desejado progresso social. Os Açores são qualificados de “perdedores” e fazem parte das 14 regiões a ficarem para trás.
Estes são dados de entidades credíveis e idóneas, que não podem ser desmentido. Só a petulância e a insensatez dos “maus governantes” é que podem negar esta realidade. Que não é inventada. É fundamentada.
Pior do que eventuais “maus economistas” são de facto “maus governantes”, que, para além de terem governado mal, vivem nas nuvens e não descem à terra. O resultado fala por si.