sexta-feira, junho 16, 2006

O apóstolo da rua

No passado dia 17 foi prestada uma significativa e justa homenagem ao Pe. Dr. Weber Machado Pereira, por iniciativa da Caritas, e na sua despedida como presidente desta instituição em S. Miguel. A igreja de S. José estava repleta de pessoas que quiseram assim manifestar, com a sua presença, a admiração pelo trabalho realizado pelo Pe.Weber em prol dos excluídos.
O Pe. Weber denunciou, sempre com muito arrojo e determinação, injustiças sociais, situações de miséria, na defesa acérrima dos mais necessitados. E actuou muito na rua, junto dos mais carenciados. Por isso foi um verdadeiro Apóstolo da Rua.
O Pe. Weber foi incómodo para o poder político. Porque muito lesto sempre a denunciar o que estava mal. Foi sempre a voz daqueles sem voz. Mesmo em plena ditadura, antes do 25 de Abril, nunca se coibiu de actuar junto dos pobres. Por isso chegou a ter o segundo maior processo junto da DGS (PIDE), nos Açores.
Arguto, inteligente e acima de tudo muito coerente ao longo da sua vida. Podemos dizer que foram quase 70 anos de coerência, o que é notável.
Nestes Açores onde a sociedade civil permanece apática, amarfanhada pelo gigantismo do Estado, o Pe. Weber foi sempre aquela voz que surge do nevoeiro a dizer que é preciso olhar para os mais pobres, para os sem-abrigo, para os alcoólicos, para os toxicodependentes. Enfim para todos aqueles excluídos da sociedade consumista e egoísta em que vivemos. Por isso foi incómodo porque provocou inquietação nas pessoas de boa vontade. E esta inquietação foi preciosa para a acção sócio-caritativa, necessária nesta ilha. É que afinal nem tudo são rosas, há ainda muitos espinhos cravados no corpo de muitos açorianos.
Sempre teve o Pe. Weber um olhar compassivo por aqueles sem sorte. E foi e é um verdadeiro Cristão, seguidor da Palavra de Cristo. Testemunha fiel do seu evangelho.
E tem demonstrado até à exaustão que é possível ter uma sociedade mais fraterna e mais justa, desde que haja partilha do Pão, da Palavra e de Amor.
Nunca se deixou apanhar pelo poder político qualquer que fosse a sua cor.
O Pe. Weber foi sempre isento, frontal e convicto. É um exemplo vivo de acção apostólica.
Mas a melhor qualificação que se pode atribuir ao Pe. Weber é de ter sido e de ser um verdadeiro Cristão. Um fiel seguidor da doutrina de Jesus Cristo na prática, na vida, no mundo, quantas vezes nefasto, injusto e medonho para muitos homens.
A comunidade micaelense precisa de vultos como o Pe. Weber. Para a agitar, para penetrar nos seus corações empedernidos e torná-los mais humanos, mais fraternos. Para alertar a sociedade dos caminhos errados que percorre em busca exclusivamente do dinheiro, do poder, do êxito e do prazer ilimitado e sem restrições. Uma sociedade hedonista, consumista, permisssiva e relativista que importa alterar.
A nossa sociedade carece de pontos de referência, vive num grande vazio moral e não é feliz, ainda que tenha materialmente quase tudo. E o Pe. Weber é um ponto de referência a seguir. Tenhamos coragem para esta caminhada.