terça-feira, setembro 20, 2005

Segurança nos Açores

Viver nos Açores já não é o que era há 20, 10 ou até há 5 anos. A segurança que existia nestas ilhas degradou-se rapidamente. A pequena criminalidade tomou conta, infelizmente, de muitas cidades e vilas.
Persistem problemas sociais graves nestas ilhas: o alcoolismo, a toxicodependência e a marginalidade. E estes problemas, ou chagas sociais, são as principais causas do agravamento das condições de segurança nos Açores.
Facadas no Campo de S. Francisco, médicos estrangeiros atacados com navalha na Rua do Castilho, assaltos por puxão em Ponta Delgada, roubos em pleno dia na Praia das Milícias e na de Água D´Alto, assaltos frequentes por arrombamento no Calço da Furna, ruas inteiras assaltadas à noite na Lagoa, furtos em residências de idosos na Atalhada, assaltos ao Tribunal de Contas, Universidade dos Açores e Hotel Royal Garden, marginais a deambularem pelo centro de Ponta Delgada, são sinais preocupantes que revelam o agravamento da segurança nos Açores.
A juntar à degradação da segurança, desenvolve-se uma cultura de impunidade, facilitismo, falta de respeito, de desregramento, com a conivência dos políticos, governantes e autarcas, mais preocupados com as obras de betão e com a oferta de divertimento em doses maciças.
E esta onda festivaleira avassaladora promove e fomenta também o consumo de álcool e de drogas ilícitas.
É frequente vermos nestes eventos adolescentes a consumirem álcool, vendido por comerciantes impunes e irresponsáveis, com a maior facilidade deste mundo. E mesmo com agentes da autoridade bem por perto. Por isso os Açores são a pior região do país no consumo de drogas por adolescentes.
Nos Estados Unidos, consumir álcool em público é expressamente proibido. A venda de álcool a menores de 18 anos é crime grave. E estamos a falar do país economicamente mais evoluído do mundo, e um exemplo de liberdade e democracia. Ao invés nos Açores, e neste aspecto, reina a libertinagem e o facilitismo.
Na Madeira o ataque já se iniciou com a assunção do alcoolismo como um problema grave de saúde pública e que precisa de uma intervenção multidisciplinar e interinstitucional. A Secretaria Regional dos Assuntos Sociais da Madeira e o Serviço Regional de Saúde celebraram recentemente protocolos com as associações Anti-Alcoólica da Madeira e Mão Amiga, no sentido de prevenir, estudar e tratar o alcoolismo.
Nos Açores as instituições de acolhimento estão repletas de crianças e jovens em risco cuja razão principal é a desestruturação familiar, devido ao alcoolismo dos seus progenitores.
Por tudo isto começamos a viver nos Açores um autêntico faroeste repleto de “outlaws”, e numa permissividade generalizada. E nem a sociedade civil nem os políticos manifestam o mínimo interesse em combater a sério esta situação.
Há já milhares de açorianos a viverem numa insegurança inaceitável, de modo especial entre a população idosa. E os políticos, governantes e autarcas, continuam envolvidos e preocupados com os churrascos, com os festivais das semanas, do mar, da maré, do pescador, dos baleeiros, com as feiras gastronómicas, com os bodos de leite, com os concertos eruditos, com a música pimba, com os espectáculos musicais do ano, com o fogo de artifício, enfim preocupados e envolvidos com uma plêiade de eventos de divertimento e de gastronomia.
E isto passa-se bem ao lado de crianças e jovens em perigo, idosos inseguros e carenciados, doentes sem consultas, sem abrigos, toxicodependentes atolados na sua droga e alcoólicos a arrastarem-se pelas ruas. Tudo isto sem provocar qualquer reacção, numa indiferença preocupante.
Querem sim os políticos, governantes e autarcas projectos megalómanos como as Portas do Mar, as vias rápidas tipo SCUT, as marinas concelhias, e agora os cais acostáveis e os pavilhões multiusos. Entretanto os alunos dos Açores são os piores do país, as adolescentes são as que mais engravidam, e o consumo de drogas o mais elevado do país junto dos jovens. E continuamos a pensar obstinadamente apenas no betão e muito pouco nas pessoas.
Passado que está a “silly season” há que pensar seriamente se queremos continuar por este caminho, criando e fomentando uma sociedade individualista, niilista, de divertimento, irresponsável e agora também insegura. É o futuro destas ilhas que está em jogo!

quinta-feira, setembro 15, 2005

Bem comum e ética na política

D. António Marcelino, Bispo de Aveiro, é uma individualidade com lucidez, visão e coragem, como poucas neste país. Colabora com importantes escritos no Correio do Vouga, que raramente aparecem na comunicação social, dita nacional ou mesmo regional. Sobre o estado do país e da sociedade portuguesa escreveu recentemente o que transcrevemos de seguida.
“O momento, não sendo ainda dramático, é preocupante. Como não há efeitos sem causas que os provoquem, impõe-se um reflexão, séria, objectiva e serena, para que seja honesta, sobre o que está acontecendo neste país que o levou, perigosamente, a um vazio de esperança e de vontade de reagir. Há os que dizem que somos assim e não há nada a fazer. Tais opiniões nem resolvem, nem confortam. Mas, também, nada há a esperar de festivais de elogios, sonhos esfusiantes, punhados de areia aos olhos. Afinal, o que se passa ? A partir de cima, parece que o bem comum deixou de ser projecto de todos e a favor de todos, dando lugar à conquista e defesa de prestígios pessoais e partidários; as leis fazem-se e interpretam-se consoante interesses e ideologias e, do mesmo sítio e do gabinete ao lado, saem orientações contraditórias; para cumprir promessas eleitorais que, honestamente, não se podiam nem deviam fazer, mudam-se leis, fazem-se acordos duvidosos, queimam-se pessoas, diz-se e logo se desdiz; há órgãos da comunicação social controláveis a promover pessoas, calar verdades, servir interesses partidários e pessoais; a corrupção aumenta, como erva daninha; põem-se amigos em estátuas de pé alto e apeiam-se cidadãos de estatura e mérito; interrompem-se projectos válidos que não foram de sua iniciativa e geram-se divisões que irão durar décadas e paralisar a necessária colaboração; fomenta-se o assalto das ideologias subversivas, a pretexto de liberdade e troca de favores; promulgam-se leis à revelia da realidade do país, das pessoas e dos seus direitos; uns são ouvidos sem falar e outros esquecidos, mesmo que gritem; o país põe-se de cócoras, ante vacuidades vistosas de outras terras, quando aí os responsáveis já sofrem dores com o caos por elas gerado…O que se pode esperar assim das pessoas, riqueza de um país, senão desinteresse, desorientação, pessimismo, desconfiança? Tudo terreno fácil para o individualismo, os jogos de interesses, a crítica destrutiva, a falta de esperança e de empenhamento? O povo honesto vê, a partir de cima, destruídos os seus valores, como o amor ao trabalho, a honradez nos compromissos, o respeito pelos bens alheios, a solidariedade mútua, a verdade e a fidelidade nas relações pessoais; os seus esforços não reconhecidos, seus sonhos e projectos ridicularizados. O povo só serve para votar e pagar impostos? Dar coragem às pessoas é ir ao encontro das causas que tudo destroem; é uni-las e não as dividir por critérios discutíveis de direitas e esquerdas; é não as iludir com promessas; é mostrar-lhes que o país está acima dos compadrios políticos; é dizer aos jovens, com factos e testemunhos de honestidade e de verdade, que Portugal tem futuro; é procurar políticos que vejam o bem comum como único projecto capaz de aglutinar vontades e esforços; é promover a união e a colaboração, respeitar e acolher as diferenças legítimas.; é não apagar a verdade histórica e aprender com os erros cometidos. Afinal, é tomar a sério a verdadeira democracia.”
De facto precisamos de uma nova política e de novos políticos. Políticos com alma, sérios e honestos que busquem incessantemente o bem comum, e nunca interesses pessoais, de grupelhos, corporativos ou partidários.
Como este diagnóstico de D. António Marcelino se aplica aos Açores, estas nove ilhas também fustigadas por esta classe privilegiada de cidadãos ditos de políticos.