quinta-feira, junho 16, 2005

Cais de Cruzeiros ou Obra do Regime

O cais de cruzeiros e suas infra-estruturas na marginal de Ponta Delgada, denominado agora de Portas do Mar, foi apresentado a um grupo seleccionado de cidadãos desta terra. E a dúvida continua a persistir. O objectivo desta obra é um cais de cruzeiros ou uma obra marcante do regime?
O Portas do Mar é um projecto de investimento com custos muito elevados, não prioritário nesta fase de desenvolvimento e tudo indica inviável, numa perspectiva de custo/benefício.
Os contribuintes desta Região têm o direito de conhecer a análise custo/benefício deste projecto de investimento, se é que foi feita. Um projecto que deve chegar aos 50 milhões de euros tem de ser correcta e profundamente analisado numa perspectiva económico-financeira. E há inúmeras questões que têm de ser clara e inequivocamente explicadas. Não basta apresentar uma maqueta integrada num espectáculo mediático.
Qual é o valor incrementável deste projecto quando comparado com a situação actual? Que receitas adicionais vai gerar este projecto de investimento? Qual é o ponto crítico deste projecto em termos de número de paquetes? Ou seja 100 paquetes por ano viabilizam este projecto? Ou terão de ser no mínimo 300? Como é que se vai crescer das actuais 4 ou 5 dezenas de paquetes que escalam Ponta Delgada para os 100, 200 ou até 300 paquetes por ano? Analisou e estudou o governo as alternativas de investimento público, possivelmente bem mais reprodutivas, para estes 50 milhões ou limitou-se a “inventar” um projecto para “encaixar” no Fundo de Coesão e sacar uns milhões de euros? Tratando-se de uma obra complexa e executada no mar calcula-se que mais de metade dos 50 milhões acabem por sair da Região através de empresas nacionais ou internacionais. As empresas regionais vão-se ficar pelas sobras. O impacte do investimento é assim reduzido.
Ou a coberto de um cais de cruzeiros o governo quer é uma obra com o objectivo de marcar e perpetuar o regime? Com 50 milhões não seria de equacionar um novo porto de pescas? Ou um terminal para graneleiros como na Madeira libertando assim o porto para os paquetes?
E depois de retirar o hangar da marinha e libertar o Forte de S. Brás, não seria de analisar o arranjo do saco da doca, em vez de voltar a construir um mamarracho para a lota, bloqueando novamente o Forte? E o impacte ambiental desta enorme massa de betão na baia do porto comercial e em frente a várias unidades hoteleira e á Igreja de S. Pedro foi estudado? E o impacte de um paquete ancorado no Cais, criando uma verdadeira barreira entre a marginal e o mar foi analisado? Não será muito mais agradável para os micaelenses e para os visitantes olhar o nosso mar até a linha do horizonte do que ver a proa e o convés e camadas de camarotes de um qualquer paquete? E os ambientalistas desta terra o que dizem? Estranhamente silenciosos!
Foi estudada a operacionalidade do porto comercial pós-projecto? E não haviam muitos outros espaços nos arredores de Ponta Delgada para a construção de um pavilhão de exposições de 4.000 m2 ? Tinha mesmo que ser em espaço conquistado ao mar e necessariamente muito oneroso para além de ser limitado? Não faz qualquer sentido. E por isso a volumetria deste projecto aumenta de forma preocupante.
E o congestionamento de trânsito naquela zona foi estudado, numa cidade já a rebentar pelas costuras e com graves problemas de circulação e estacionamento de viaturas?
Demasiadas questões de natureza, económico, financeira, urbanística, ambiental e até mesmo social estão por esclarecer. E temos todos o direito a estes esclarecimentos, de forma transparente e democrática. Recusamos a opacidade e muito menos a desinformação, armas amiúde usadas pelos nossos governantes.
Não deixa de ser estranho que a Secretaria Regional da Economia convide e pague a deslocação de jornalistas, ao atelier do arquitecto Manuel Salgado e que alguns dias depois em Ponta Delgada faça uma sessão de apresentação do projecto. Recusamo-nos aceitar a transparência e verdade que convém aos políticos. Exigimos muito mais, porque a tal temos direito, como cidadão responsável e como contribuinte com os impostos em dia.
O progresso destas maravilhosas ilhas não pode estar ao sabor do momento, de alguns governantes, quiçá sob pressão de poderosos lobis, e a qualquer custo, mesmo que seja destruindo a “galinha de ovos de oiro” das ilhas. Que é o seu ambiente natural, simples e bucólico, formado pelo contraste do azul do mar, com a rocha negra, com o verde dos campos, matizados pelas coloridas hortênsias, azáleas, conteiras, beladonas e agapantes, e sempre com o mínimo de betão possível. Isto é que representa e representará sempre a diferença dos Açores, quando comparados com outros destinos turísticos. Não queiramos destruir isto!