A Família Constrangida e Condicionada
Profundas alterações sócio-económicas se verificaram nas últimas 3 décadas nos Açores, mas ainda mais drásticas mutações se vão concretizar na próxima década.
Este novo ambiente sócio-económico, que se começa a viver, está a pressionar e a condicionar a família açoreana: nos seus valores, no seu comportamento cívico e religioso, nos seus padrões de consumo, no seu nível de rendimento, no seu emprego e exigências profissionais, na sua educação e formação, no seu pensamento, na sua coesão e em suma, no seu modo de vida.
E infelizmente surgem já sinais de que a família está constrangida e condicionada: um número crescente de divórcios nos Açores, com uma taxa de 2,8 por mil, acima da média nacional; uma tendência para alterar o conceito de família, com 5.000 pessoas já a viverem em união de facto; um número crescente de filhos fora do casamento, portanto de pais solteiros ou em união de facto, de 17% (média nacional 25%); e o surgimento da família “light”, monoparental ou de casais do mesmo sexo.
Também o aumento da violência doméstica e o crescimento do número de crianças e jovens em perigo. Nos Açores existem mais de 600 crianças e jovens institucionalizadas, e outras tantas a deambular nas ruas e em perigo eminente. Nos Açores, em 2002, 10,9% dos partos foram de mães com idades entre 15 e 19 anos, a percentagem mais alta do país (média 5,8%).
Depois os pais parecem não ter tempo para os filhos: segundo o INE, 40 minutos é o que cada família portuguesa, em média, despende por dia com o acompanhamento das crianças (ensino e conversa). E apenas 1 hora e 20 minutos em cuidados regulares (refeições e higiene diária) e uma hora em cuidados físicos e de vigilância. Por outro lado os portugueses passam actualmente em média 3h e 27m em frente ao écran de televisão.
Mais grave é o facto de, nos Açores, 1 em cada 5 jovens de idade entre 14 e 16 anos, terem tido já experiências de consumo de drogas. Isto é, 19% dos jovens inquiridos. A média nacional ronda os 14%. A Madeira tem uma taxa de 12%. Os Açores estão no topo nacional dos adolescentes toxicómanos.
Relativamente ao álcool, a situação é também alarmante: 3 em cada 4 jovens teve experiências de consumo. Como os Açores, só a região do Alentejo. A média nacional é de 67%. Na Madeira é de 61%.
Face a estes tristes e preocupantes sinais, os desafios, nesta sociedade insular e pequena, são muitos, a indiciar oportunidades de intervenção dos cidadãos, dos cristão e dos seus movimentos, e da própria Igreja.
É preciso quanto antes acção, mas de forma organizada. Não vale, não serve, esconder esses problemas, há que enfrentá-los com coragem, perseverança e vontade de os debelar ou minimizar.
O Centro de Aconselhamento Familiar (CAF), recentemente instalado em S. Miguel, é um exemplo da acção que se justifica e se precisa urgentemente. Muitos dos problemas familiares que surgem podem ser debelados através da mediação familiar e com a ajuda de especialistas. O recurso ao advogado deve ser em última instância e quando todos os outros meios estiverem esgotados. O que se assiste é um correr desalmadamente para o advogado, à mínima questiúncula familiar, e que por vezes acaba mesmo em divórcio, essa “praga” que assola também a nossa sociedade insular. Vivemos numa época em que ninguém quer assumir compromissos, e quando os há, rapidamente são desfeitos, em prol de uma sociedade materialista, niilista e egoísta. De facto nunca os homens tiveram tanto conforto material, mas também nunca foram tão infelizes, mesmo nestas maravilhosas ilhas dos Açores.
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