A Cultura da Morte: O Aborto
O primeiro-ministro afirmou na sessão parlamentar de apresentação do programa do XVII Governo Constitucional, que levará a cabo durante a sua legislatura um novo referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez. Os "sinais de evolução" que houve na sociedade portuguesa, desde a última consulta popular, e a "subsistência do drama do aborto clandestino" são as principais razões para o referendo. E ainda José Sócrates garantiu que vai participar na campanha pela despenalização do aborto. No final do debate o partido socialista entregou um projecto de resolução para que se realize um referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez, o mais rapidamente possível, e apresenta proposta de despenalização da interrupção voluntária da gravidez nas primeiras dez semanas, a pedido da mulher e após uma consulta num Centro de Acolhimento Familiar.
Assim este jardim à beira-mar plantado, denominado de Portugal, vai evoluir em direcção à cultura da morte, à semelhança do que aconteceu nos últimos anos na vizinha Espanha. Um total de 77.125 abortos foram praticados só em 2002. Significa 211 abortos por dia, ou seja 1 aborto em cada 6 minutos e 49 segundos. Impressionante infanticídio! Há 125 centro de morte acreditados em Espanha. O negócio do aborto em Espanha representa cerca de 50 milhões de euros.
Estima-se que em Espanha no período 1991-2002 assassinaram-se 653.138 seres humanos indefesos. Uma arrepiante mortandade. Assim o aborto é a primeira causa de morte em Espanha. Muito mais do que o cancro e as doenças cardiovasculares. É esta cultura de morte que querem promover em Portugal.
O aborto não envolve apenas uma questão moral ou religiosa, mas fundamentalmente científica.
O eminente e conhecido cientista, Jérôme Lejeune, professor da universidade de René Descartes, em Paris, que dedicou toda a sua vida ao estudo da genética fundamental, descobridor da Síndrome de Down (mongolismo) diz claramente: «Não quero repetir o óbvio mas, na verdade, a vida começa na fecundação. Quando os 23 cromossomas masculinos se encontram com os 23 cromossomas da mulher, todos os dados genéticos que definem o novo ser humano já estão presentes. A fecundação é o marco do início da vida. Daí para frente, qualquer método artificial para destruí-la é um assassinato». O aborto é pois claramente um homicídio. É retirar a vida a um ser humano, um nascituro .
O presidente do Senado italiano, Marcello Pera, um assumido não-crente, num debate celebrado na Universidade Pontifícia de Latrão afirmava recentemente que «o embrião é uma pessoa desde sua concepção».
A Dr.a Elizabeth Kipman Cerqueira, médica ginecologista, integrante da Comissão de Ética e Coordenadora do Departamento de Bioética do Hospital São Francisco, em São Paulo, afirma categoricamente: «Os tratados de Medicina continuam afirmando que o início da vida humana acontece no momento da união do óvulo e do espermatozóide. Mesmo grandes defensores do direito irrestrito da mulher ao aborto concordam com esta afirmativa. Por exemplo, Peter Singer, filósofo e professor, defensor do direito ao aborto, ao ser perguntado: Para o senhor, quando começa a vida?, respondeu: Eu não tenho dúvida de que a vida começa na concepção».
A ciência demonstra, essencialmente com os potentes microscópios electrónicos, que o ser humano, recém fecundado, tem já o seu próprio património genético e o seu próprio sistema imunológico diferente da mãe. É o mesmo ser humano - e não outro - que depois se converterá em bebé, criança, jovem, adulto e mais tarde idoso.Aceitar, portanto, que depois da fecundação existe um novo ser humano, independente, não é uma hipótese irreal, é sim uma evidência experimental.
Se o embrião é um ser humano, o problema do aborto não é somente um problema religioso, mas de ética natural: envolve um homicídio.
E como envolve um homicídio deve ser considerado crime. O aborto é pois uma incoerência ética e uma aberração científica.
Perante este desejo político de enveredar pela cultura da morte os cristãos deste país têm de defender a vida, sempre em coerência com a palavra de Cristo. Não há lugar para cristãos receosos, tímidos e encolhidos. Há que ter coragem e bater o pé a esta cultura da morte, que nos querem forçosamente impor.
Na Região Autónoma dos Açores espero não ver mais uma vez a hierarquia da Igreja silenciada, vergada ao poder, apática e indiferente perante este assalto à morte de seres indefesos, que têm todo o direito à vida, como a sua mãe teve, e que agora o pretende matar.
O referendo pretendido, e com a participação directa do primeiro ministro a favor da liberalização do aborto, não vai ser isento e equitativo, na medida em que os meios financeiros e logísticos vão estar do lado dos promotores da morte. A Igreja, hierarquia e comunidade de leigos, tem de sair do Templo e vir para a rua onde o combate se vai realizar. Trata-se de um combate duro, para valentes, que é preciso preparar desde já.
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