A Droga de Políticos que Temos
A droga medra a olhos vistos na Região, enquanto a classe política, mormente a que exerce funções executivas, se preocupa essencialmente com o betão, sob a forma de um aberrante e megalómano cais acostável de paquetes em Ponta Delgada, um investimento de 40 milhões de euros, sem se vislumbrar qualquer rendibilidade. Ou se preocupa com estradas na modalidade SCUT, (Sem Custos para o Utilizador) mas com elevados custos para o contribuinte Açoriano. Ou até mesmo a apoiar equipas de futebol com milhões de euros, fomentando uma classe de jogadores de fora e gestores desportivos carentes de protagonismo e minguados de competência e idoneidade, e por isso exercendo gestões ruinosas, que tanto prejudicam as algibeiras dos contribuintes destas ilhas.
E enquanto a droga medra nas escolas, atingindo fortemente muitas famílias, há nos Açores 53 ex-deputados com subvenções vitalícias que variam entre 1.000 e 3.500€, numa despesa anual de 1,5 milhões de €, paga por todos os já depauperados contribuintes dos Açores. E ainda se houve partidos políticos a apresentarem soluções de revisão da lei eleitoral que passam pelo aumento dos actuais 52 deputados. O partido socialista quer mais 5 deputados e o partido popular mais 7. Isto a par da notícia de que não houve sessão parlamentar em Fevereiro por nada haver para analisar ou debater. É o interesse corporativo a vir ao de cima. Vergonhoso e injusto!
Enquanto a droga medra nas instituições de acolhimento de crianças e jovens os ex-deputados recebem subsídios de reintegração de 25.000€ se estiveram 1 mandato e 25.000€ se fizeram 2 mandatos. Inqualificável para quem devia possuir apenas o sentido de servir os seus concidadãos!
É a droga de políticos que temos nesta Região. O povo destas ilhas não merece isto. Não merece esta discriminação entre políticos e governantes fartos, à beira da aerofagia, e cidadãos à margem da sociedade, lutando na penumbra pela sua sobrevivência: crianças em risco, toxicodependentes, alcoólicos, sem abrigos, idosos, doentes e pobres.
E a droga aumenta sem reacção digna de registo especialmente da parte do governo. Uma inércia preocupante e assustadora. Nem prevenção, nem tratamento adequado. Abandonados à sua sorte estão os toxicodependentes e os jovens açorianos em idade escolar.
O último estudo digno de registo foi o Inquérito Nacional em Meio Escolar, realizado junto de 25.000 jovens do 3º. ciclo do ensino básico, com recolhas em Novembro de 2001, e que apresenta os piores resultados possíveis para os Açores. Nestas ilhas, 1 em cada 5 jovens de idade entre 14 e 16 anos, tiveram já experiências de consumo de drogas. Isto é 19% dos jovens inquiridos. A média nacional ronda os 14%. A Madeira tem uma taxa de 12%. Os Açores estão no topo nacional dos adolescentes toxicómanos. Muito grave, mas ainda não suficientemente grave para mover e tocar os nossos políticos.
Por seu lado os resultados, apenas sobre o consumo de cannabis, indicam que 14% dos jovens açorianos que frequentavam o 3º. ciclo, tiveram experiências com esta droga. De novo a taxa mais elevada do país, que tem uma média de 10%. A Madeira tem 9%. Andam todos os nossos políticos voltados para o raio do betão, e não vêem ou não querem ver a droga que nos rodeia.
Relativamente ao álcool, a situação é ainda pior: 3 em cada 4 jovens teve experiências de consumo. Como os Açores, só a região do Alentejo. A média nacional é de 67%. Na Madeira é de 61%. Deplorável!
O universo do estudo, são jovens de tenra idade, os futuros homens de amanhã, os principais recursos destas ilhas. Jovens que se degradam nas drogas ilícitas e nas lícitas (álcool).
A coordenadora da Associação Alternativa veio recentemente reconfirmar esta situação, dizendo que a toxidependência está a atingir jovens, cada vez mais novos. Rapazes e raparigas vêm-se envolvidos no mundo da droga com 13 e 14 anos. Triste realidade que muitos querem esconder a todo o custo!
Fuma-se um “charro”, consome-se “chamon” e injecta-se heroína nas escolas dos Açores, com a maior facilidade. Este comportamento passou a ser banal, sem qualquer controlo ou vontade de se atacar este problema social grave. Alunos de 12 e 13 anos já são consumidores de drogas ditas “leves”. E encontram-se na rampa de lançamento para as outras drogas: ecstasy, cocaína e heroína. A classe política, e neste caso também a comunidade escolar, parecem nada ligar. Todos estão a “assobiar para o lado”, numa atitude reprovável e irresponsável. E os dirigentes escolares vão mais longe e continuam a dizer, cinicamente, que na sua escola não há drogas. Que indiferença e desfaçatez!
Se há recursos financeiros para tudo e mais alguma coisa como se explica que não haja para campanhas de prevenção da toxicodependência? E do álcool, uma verdadeira chaga social? Não há é vontade política, num sistema trôpego, onde a justiça não funciona, a saúde é deficiente, e os políticos enredam-se entre si, em círculos concêntricos, olhando para o seu próprio umbigo. Por outro lado os responsáveis escolares limitam-se a enterrar a sua “cabeça na areia” à espera que o tempo passe. Os professores e os auxiliares de educação sabem do que se passa, mas não denunciam, por medo ou por comodismo. Péssimo exemplo de cidadania.
O consumo de drogas nos Açores é verdadeiramente grave. O consumo de álcool é muito preocupante. E mais preocupante ainda é que os grandes consumidores começam a ser os jovens em idade escolar. Tudo isto porque temos uma droga de políticos e de governantes e uma sociedade amorfa apática e irresponsável! Até que a desgraça bata às suas casas! Nesta altura vão reagir e sentir a gravidade da situação.
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