quinta-feira, dezembro 22, 2005

Discernir neste Natal

Nesta quadra natalícia, que deve ser de recolhimento, de solidariedade e de amor, especialmente para com os mais necessitados, desejamos ardentemente dos políticos que haja discernimento na gestão do bem-comum. Na gestão dos milhões e milhões de todos, que devem ser também para todos.
Existe contudo um fosso enorme entre o que os políticos dizem que vêem e aquilo que vemos, numa perspectiva de cristão assumido e de cidadão atento ao seu redor.
Vemos um esbanjamento enorme de quem tem a missão de gerir o bem comum. Vemos um aproveitamento afrontoso de certas e determinadas elites, que com poder económico e político, condicionam decisões e apoderam-se de recursos, que são de todos.
Assistimos a um discurso do governo desfasado da realidade. Ao tom cor-de-rosa de que falam, vemos uma sociedade insular com muitos e graves problemas por resolver.
Vemos que, passados duas décadas de fundos estruturais da União Europeia, estes não trouxeram o devido crescimento económico e muito menos o desejado progresso social. Os Açores são qualificados de “perdedores” e fazem parte das 14 regiões a ficarem para trás. A Região Autónoma dos Açores continua a ter o PIB per capita de ainda e apenas 83% da média nacional, e de apenas 56% da União Europeia.
E depois há indicadores sociais muito preocupantes. Desde logo a existência nestas ilhas de 30.000 alcoólicos. Isto é, em cada 100 açorianos 12 são alcoólicos. A existência de 5.000 toxicodependentes, alguns em estado de degradação total.
Cerca de um terço da população nos Açores, 80.000 cidadãos, não tem médico de família.
Há cerca de 16.000 beneficiários do Rendimento Social de Inserção, quase 7% da população. Ou seja, em cada 100 açorianos 7 vivem em condições mínimas de sobrevivência. Há graves situações de pobreza em S. Miguel, denunciadas pela Cáritas. O Banco Alimentar Contra a Fome aumenta o seu apoia a cada vez mais famílias, altamente carenciadas.
A droga abunda no interior das escolas e nos espaços circundantes. E os Açores estão no topo nacional no consumo de drogas no meio escolar.
Em cada 100 crianças nos Açores 3 estão em perigo, isto é, vivem na miséria, sofrem maus tratos e mesmo abusos sexuais. É o pior indicador do país. A taxa de gravidez de adolescentes açorianas é o dobro da taxa nacional.
Há quase 600 crianças e jovens institucionalizadas em 39 lares de acolhimento. Os Açores têm um problema grave de insucesso escolar.
Os Açores apresentam dos piores indicadores da União Europeia de população com nível de estudos superiores.
Portanto, apesar dos avultados investimentos públicos, ao abrigo dos 3 Quadros Comunitários de Apoio, os Açores não descolam do pelotão de trás, mantendo-se numa das regiões mais pobre de Portugal e da União Europeia.
Os avultados investimentos públicos não geraram a riqueza necessária e desejada. Muitos dos projectos de investimento do governo regional e das autarquias não são reprodutivos e não têm efeitos de dinamização empresarial. O esbanjamento e a corrupção dão cabo de muitos recursos. A insistência em obras inúteis e desnecessárias é perniciosa e nada favorece os açorianos.
A política festivaleira das autarquias e do governo é um esbanjamento injusto e inadmissível para uma região pobre como os Açores.
Neste Natal e neste final de ano, altura em que se aproveita para fazer balanço, torna-se necessário fazer silêncio (coisa que os nossos políticos têm de aprender!) reflectir e discernir, com vista a uma melhor gestão do bem-comum: mais racional, mas equitativa, mais justa e mais séria. O desenvolvimento económico é uma simbiose de crescimento económico e progresso social e deve promover todos os homens e o homem todo. O homem tem de estar no centro do desenvolvimento económico. E nos Açores amiúde ainda não está.
Um Santo Natal.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Droga nas Escolas

Já o estudo do Instituto da Droga e Toxicodependência havia indicado um problema grave de drogas nas escolas dos Açores. O trabalho constou do Inquérito Nacional em Meio Escolar, realizado junto de 25.000 jovens do 3º. ciclo do ensino básico, em todo o país, com recolhas em Novembro de 2001.
Neste estudo a Região Autónoma dos Açores apresentava dos piores resultados do país. De facto um em cada 5 jovens, de idade entre 14 e 16 anos, tinha tido já experiências de consumo de drogas. Isto é 19% dos jovens inquiridos. A média nacional rondava os 14%. A Madeira tinha uma taxa de 12%. Os Açores, segundo este estudo, estavam já no topo nacional no consumo de drogas em ambiente escolar.
O cenário verificado há 4 anos já era muito preocupante. Há indicações de que a situação agrava-se drasticamente.
Há dias um matutino micaelense contactou com o presidente do conselho directivo da escola Antero Quental que confirmou que se trafica droga nos espaços circundantes da escola, de forma descarada. Os pais e encarregados de educação estão preocupados e angustiados com esta situação. O presidente em causa bateu a várias portas sem qualquer sucesso. E considera-se impotente para resolver este grave problema.
Infelizmente o que se passa na Antero de Quental, também se verifica nas escolas das Laranjeiras, Domingos Rebelo, Canto da Maia, em Ponta Delgada, e nas escolas da Ribeira Grande e de Lagoa. A situação é grave com tendência para piorar com os traficantes a ganharem a batalha, investindo forte nos alunos adolescentes, potenciais consumidores no futuro.
Alunos de 12 e 13 anos já são consumidores de drogas ditas “leves”. E encontram-se na rampa de lançamento para as outras drogas: ecstasy, cocaína e heroína.
Esta é uma situação confrangedora, confirmada amiúde à boca pequena, por professores, auxiliares e alunos, que se sentem impotentes para debelar este problema das drogas nas escolas.
Por outro lado quer o governo regional, quer as autarquias e os serviços da república, permanecem apáticos, perante o aumento avassalador da droga junto dos jovens.
O governo regional “sacode” para os serviços da república, preocupado que está com as suas obras faraónicas de betão.
As autarquias “sacodem” para o governo regional ou para a PSP, preocupadas que estão com a sua política musical e circense. E assim em vez de termos políticos responsáveis, humanizados, solidários e corajosos, começamos a ter mestres de obras sumptuosas e mestres de cerimónia de espectáculos piro-musicais. É triste admitir isto!
Entretanto os pais e encarregados de educação permanecem aflitos e angustiados desejando que este tormento da droga nunca bata às suas portas. Mas infelizmente nenhuma família está segura.
É inadmissível o comportamento do governo e das autarquias em relação a esta matéria. O governo tem apenas uma verba de 850.000€ no Plano de 2006 para combater as toxicodependências. Por comparação tem uma verba de 1,4 milhões para prémios de classificação e subida de divisão de equipas desportivas. Incongruência e falsa noção das prioridades. Por outro lado apenas a Ribeira Grande anunciou já um plano de prevenção das toxicodependências.
Como o Estado, na Região, não reage adequadamente, cabe à sociedade civil organizar-se, com vista a libertar os jovens desta chaga social. Há que denunciar corajosamente este problema. Nos meios de Comunicação Social, de forma a provocar reacções dos nossos governantes. Os cidadãos têm de dar as mãos, denunciar, pressionar e cooperar, para o bem desta terra, e dos jovens que são o seu principal recurso. Para que a droga nas escolas desapareça, como ameaça poderosa e grave.