quarta-feira, agosto 24, 2005

A Eutrofização da Sociedade e a Irresponsabilidade dos Políticos

Infelizmente não são apenas as lagoas de S. Miguel que estão num elevado estádio de eutrofização. A sociedade civil açoriana também está eutrofizada. E por isso permanece apática, imóvel e descaracterizada. Por excesso de nutrientes, sob a forma de subsídios e outras benesses avulso, e agora também de festas e festivais, churrascos e bodos de leite. Nunca os Açores estiveram num tal estádio de alienação colectiva. Um devaneio preocupante!
Instalou-se nestas ilhas uma sociedade do divertimento, niilista e individualista, que consome doses maciças de divertimento importado a peso de oiro, e de má qualidade. A onda festivaleira que percorre as ilhas neste verão é bem elucidativa deste consumo, e da irresponsabilidade dos nossos governantes e autarcas.
Estima-se que se gaste qualquer coisa como 20 milhões de euros, por iniciativas do governo e das autarquias, para festas e festivais. É absolutamente inconcebível e de todo inaceitável.
De facto a sociedade civil não se faz sentir nestas ilhas. Os partidos da oposição estão apáticos. As organizações cívicas ou não existem ou os seus membros já foram recrutados pela administração regional ou autarca. As associações de produtores e de empresários estão manietadas. O governo regional criou uma tremenda e fortíssima teia, usando um instrumento poderoso, o Orçamento Regional. Por outro lado as 19 autarquias, com os seus orçamentos específicos, criaram os seus “reinos” próprios, onde pululam inúmeros caciques locais, com míngua de formação e insaciável ambição e protagonismo.
Em 2004 a despesa da Região atingiu 732 milhões de euros. Um valor de 3.025 € por cada açoriano, criança, adulto ou idoso. O montante para despesas correntes foi de 504 milhões enquanto que para investimento foi de 229 milhões. Estamos a falar de valores muito elevados para uma pequena economia insular.
Se compararmos a despesa com o PIB da Região, que deve rondar os 2.700 milhões, temos que esta contribui para 27% do produto. Se à despesa do governo regional adicionarmos as 19 autarquias chegamos à conclusão que mais de um terço do PIB da região provém do Estado, que nestas ilhas é comparativamente mais monstruoso do que no Continente Português.
Nos Açores há quase 22.000 funcionários públicos, sendo 18.000 da administração regional e quase 4.000 da administração local. Para uma população activa de 104.000 pessoas, significa que um em cada 5 açorianos é funcionário público, dependentes assim do Estado.
Há uma omnipresença e omnipotência perigosa do estado na Região. E por isso a sociedade civil respira mal. Está amarfanhada. Há uma enorme dependência económica quer das empresas quer das pessoas singulares. E assiste-se a um silêncio profundo, por estratégia, por necessidade. Aquela obra tão necessária para manter a empresa, aquele subsídio à filarmónica, aquele subsídio para o rendimento mínimo, aquela habitação para realojamento ou aquela a custos controlados, aquele emprego para o filho, fazem do silêncio e da apatia uma vantagem. Uma abrangência tentacular do governo, que distribui e redistribui o bolo financeiro por quem entende, faz desta sociedade insular, uma sociedade eutrofizada.
E depois assiste-se à presença na comunicação social dos avençados do governo e das autarquias, pagos por todos nós, a defender a onda festivaleira como desenvolvimento cultural importante para os Açores e para o turismo de modo específico. A Jéssica Amaro , as Taity, as Delirium, o Marco Paulo, o José Malhoa, a Daniela Mercury ou a Yvete Sangalo, o que contribuem para a cultura dos açorianos? Mal vai a nossa cultura se precisar destes artistas para o seu enriquecimento.
Ou acham que a procura turista dos Açores vai aumentar devida à presença do Abba Gold, do Martinho da Vila ou dos Ramp, das Meninas ou do Bonga ? Vamos ter mais turistas pela actuação do Maninho Baia, do Manecas Costa ou do Blind Zero?
E já agora acham ainda que as equipas de futebol promovem os Açores no exterior para receberem qualquer coisa como quase 5 milhões de euros? Veja-se a triste figura do Santa Clara na época passada: ordenados em atraso, dívidas ao fisco, litígios com jogadores e sindicato, dirigentes acossados, fornecedores por receber etc...
Sejamos claros! Acabemos com utopias e alienações, e deixemos de imitações de regiões e países ricos! Os Açores são das regiões mais pobres da União Europeia, com problemas sociais graves ainda por resolver, que os políticos têm de encarar e buscar solução quanto antes. Há milhares de açorianos carenciados e a sofrer à espera destas soluções.
A continuar este estado de coisas é para dizer: “Quo vadis Açores?”.

1 Comments:

Blogger CP said...

Excelente post.

4:44 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home