segunda-feira, novembro 14, 2005

As Portas do Inferno (do Trânsito)

As Portas do Mar vão transformar e acima de tudo transtornar a vida de Ponta Delgada. Para além deste projecto de investimento público não ser prioritário nem economicamente viável, é de uma dimensão perfeitamente exagerada para a sua localização e tem efeitos ambientais bem nefastos, agrupa um conjunto de equipamentos que vão introduzir na marginal de Ponta Delgada uma carga excessiva e incontrolável de tráfego.
As Portas do Mar podem bem ser as portas do inferno de trânsito, de Ponta Delgada.
Convem referir que as Portas do Mar para além dos dois cais acostáveis, um para paquetes e outro para barcos inter-ilhas, vai ter apêndices desnecessários, como um pavilhão de exposições de 4.000 m2 com um anfiteatro, e como uma zona comercial de 5.300 m2. São 9.300 m2 de construção em aterro conquistado ao mar, que deveriam e poderiam estar localizados noutro qualquer local bem mais amplo.
Estamos a falar de um polo de atracção de trânsito na marginal sem as devidas e planeadas acessibilidades. As Portas do Mar são simplesmente implantadas na boca do porto comercial sem a preocupação prévia de preparar acessibilidades para o efeito. Para um empreendimento desta dimensão a única acessibilidade é a marginal de Ponta Delgada, mais concretamente para a zona nascente, porque para poente está totalmente saturada pelo trânsito.
As Portas do Mar vão contribuir para uma degradação ainda maior da zona da marginal, onde se encontra a frente hoteleira, a ser reforçada com o casino e o hotel, nos espaços da EDA. Prepara-se um verdadeiro caos de tráfego na marginal.
Ponta Delgada vai passar assim a rivalizar com as grandes cidades, em relação ao trânsito caótico e às suas filas intermináveis.
Presentemente há dias em que a fila de viaturas para entrar em Ponta Delgada pela marginal, lado nascente, começa na Rotunda de Belém. Imagine-se um fluxo ainda maior de viaturas para acesso aos paquetes, aos navios inter-ilhas, à zona comercial e ao pavilhão de exposições o que não vai ser.
E o governo tem o descaramento de dizer que a solução está prevista no projecto, com um mísero parque de estacionamento para 200 viaturas, que será construido sobre um aterro conquistado ao mar paralelo à marginal. Como se isto fosse resolver o problema. Duzentas viaturas são apenas as viaturas que terão de sair do aterro da calheta do Pero Teive quando aquela zona for requalificada. E as outras viaturas onde vão estacionar? E como vão circular naquela zona?
Diz o governo que mandou elaborar um estudo sobre o tráfego da cidade de Ponta Delgada feito em colaboração com a Câmara Municipal e a Universidade Técnica de Lisboa. Naturalmente mais um feito à medida, por gente de fora. E que não impede nem resolve o caos que vamos ter na marginal
Cntinuamos a estranhar o silêncio da autarquia sobre este potencial problema de trânsito que vai sobrar para a própria autarquia, na resolução do estacionamente e circulação de trânsito nesta cidade pequena e limitada.
As Portas do Mar é um projecto faraónico, puramente político, para satisfazer os caprichos de alguns governantes, para alimentar uma certa e determinada elite (empreiteiros, industriais de brita, betão e pedra, associação de empresários etc...) e assim enterrar 50 milhões de euros, com um retorno incerto e desprezível. E a sociedade civil nada tem a dizer? E os ambientalistas? E os urbanistas? E os arquitectos locais? O silêncio é de ouro numa sociedade insular, pequena e totalmente dependente do poder político, bem próxima das democracias de partido único.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A sociedade açoriana sempre foi dependente do poder político, desde o tempo do saudoso Dr. Motar Amaral, acontecendo o mesmo no reinado do senhor César.
É comer e calar

12:27 da tarde  

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